Quando estreou como cantora, em 1975, com um disco em parceria com Gerson Conrad, dos Secos & Molhados, Zezé Motta, 75, já tinha feito trabalhos importantes como atriz no teatro, sua estreia, Roda Viva, dirigida por Zé Celso Martinez Correia e na televisão, na novela Beto Rockfeller, ambos de 1968.
Mas o ano seguinte, 1976, seria consagrador na carreira de Zezé Motta, quando estourou no cinema em Xica da Silva, de Cacá Diegues, filme que a projetou inclusive internacionalmente. Diante do imenso sucesso do longa, Zezé recebeu um convite para trabalhar numa minissérie na Rede Globo, o que poderia ser finalmente seu porto seguro, numa carreira que começou no Teatro Tablado no Rio de Janeiro.
Sendo uma atriz negra, consciente de sua negritude e das dificuldades impostas pelo preconceito racial no Brasil, Zezé descobriu que a personagem iria penas servir doces numa festa de aniversário da minissérie. Ela de prontidão não aceitou o convite, o que fez o diretor e ator Zbigniew Ziembinski (1908-1978) ligar para ela, para que aceitasse a oportunidade, pois assim Zezé não faria mais televisão. “Então, não vou mais fazer televisão”, respondeu na época.
Ela, como sabemos, não deixou de fazer televisão, mesmo tendo que aceitar papeis que não valorizassem seu talento de atriz, como escravas e empregadas domésticas sem histórias próprias. Mas nunca deixou de lutar por condições mais justas na carreira, que incluía a música, o cinema e o teatro.
Aos 75 anos de vida, com filhos e netos, e alguns casamentos, e 52 anos de carreira, Zezé continua na labuta incansável de uma atriz e cantora negra, que só tomou consciência da sua condição racial, quando foi fazer uma peça do Teatro de Arena nos Estados Unidos, no início da carreira. Foi na Universidade do Harlem, na montagem de Arena Conta Zumbi, que Zezé Motta percebeu que tinha passado por um embranquecimento no Brasil, ao ser cobrada por alunos negros da instituição por que usava uma peruca Chanel e tinha o cabelo alisado.
Em 2019, ela lançou uma segunda biografia da sua vida, Zezé Motta, Um Canto de Luta e Resistência, de Cacau Hygino, e um disco totalmente dedicado ao samba, O Samba Mandou Me Chamar, pela Coqueiro Verde, com participações de Arlindo Cruz e Xande de Pilares, em que apresentação compositores jovens de samba, num disco que lembra as letras de alguns sambas de Alcione, inclusive no tom de voz de Marrom, com toda amplidão e suingue já conhecidos.
Na Blue Note, Zezé faz fará um show mais intimista com voz e violão, passeando pelas diversas fases de sua carreira eclética que vai do pop, ao blues, samba e MPB, trazendo composições feitas para ela por artistas como Caetano Veloso, Luiz Melodia e Moraes Moreira. Quem sabe, ela cante Muito Prazer, Eu Sou Zezé, do disco de 1978, Zezé Motta, Prazer, Zezé, em que mostrava com peito aperto sua condição de negra, mulher e artista.
“Muito prazer, eu sou Zezé/Mas você pode me chamar como quiser/Eu tenho fama de ser maluquete/Ninguém me engana nem joga confete/Muito prazer, eu sou Zezé/Uma rainha, uma escrava, uma mulher/Uma mistura de raça e cor/Uma vida dura mas cheia de sabor”.
SERVIÇO
O que? Zezé Motta Atendendo a Pedidos Onde? Blue Note São Paulo. Conjunto Nacional – Av. Paulista, 2073 – 2º andar
Quando? 29/02, numa sessão única às 20h, abertura da casa às 19h
Quanto? R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia)
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