Durante os 15 primeiros minutos de Valerian e a Cidade dos Mil Planetas, achei que era o filme da minha vida. Afinal, é uma ficção científica passada no espaço, sob regência de Luc Besson, e que conta com cuidado visual e estética estonteantes -- além da trilha sonora com David Bowie, é claro. Infelizmente, porém, o longa-metragem foi murchando com o passar do tempo e, no final, tornou-se apenas mais um filme na carreira do diretor e na minha vida.
A história tem ares grandiosos: Valerian (Dane DeHaan, de O Espetacular Homem-Aranha) e Laureline (Cara Delevingne, de Esquadrão Suicida) são dois agentes federais que lutam pelo bem da Terra e dos planetas aliados. E quando eles chegam ao planeta Alpha, que reúne centenas de espécies e é governado por humanos, os dois precisarão impedir uma misteriosa força galática maligna de tomar conta das pessoas e planeta, enquanto tentam entender o que a comanda.
A partir desta premissa, Valerian tem um grande ponto positivo ao seu lado: a estética que é criada. O universo é maravilhoso, lindo, estonteante. Além disso, há um extremo cuidado em criar cada ser vivo que compõe aquele planeta, desenvolvendo particularidades de cada criatura. Lembra muito o ambiente de Star Wars e de Star Trek, que sempre prezou por uma pluralidade de raças alienígenas. Um ou outro, aliás, lembra muito as personagens destas duas franquias.
Por conta disso, o espectador fica com vontade, logo nas primeiras cenas, de conhecer um pouco mais aquele mundo apresentado em Valerian. Não só aliens, mas todo ecossistema de universos, a relação entre eles e até a política daquele planeta que reúne várias raças em um só lugar - como é visto em Star Wars e em livros de Ursula K. Le Guin, por exemplo. Querendo ou não, o espectador fica ansioso por uma história. Mas ela não vem. E é aí que entra o ponto negativo do filme.
Mesmo com todo material visual que Besson conseguiu desenvolver, a história é fraca. Todo o roteiro, escrito pelo próprio Besson e baseado numa antiga HQ, é raso como uma folha de papel. As personagens não possuem desenvolvimento e os conflitos que alavancam toda a história são risíveis ou até clichês -- a grande trama por trás já foi vista em filmes como Distrito 9 e Ender's Game. Não há nada novo. Ainda assim, o visual seguraria as 2 horas de projeção, se não fossem dois detalhes: DeHaan e Delevingne.
Toda a trama está ancorada nas personagens de DeHaan e Delevingne. Um poste qualquer na rua consegue ter muito mais carisma que os dois. DeHaan, que já vem do fracasso de O Espetacular Homem Aranha, não se sente confortável em cena, deixando transparecer para a tela. Ele tenta, a todo o custo, se tornar um novo Chris Pratt, mas não consegue. Não há emoção na atuação de DeHaan.
Delevingne, enquanto isso, consegue entregar uma personagem um pouco melhor, com um pouco mais de camadas e momentos divertidos na tela -- além de uma ou outra cena onde consegue transmitir um pouco de emoção. Mas para por aí. Ainda que tenha sido feito um trabalho muito melhor do que em Esquadrão Suicida e Cidades de Papel, ela mostra que tem muito a aprender como atriz antes de ser protagonista numa produção de um renomado diretor e que custou mais de US$ 200 milhões.
A química entre DeHaan e Delevigne, enquanto isso, é inexistente. Tentei procurar o filme todo, e simplesmente não encontrei. A empatia com Valerian só não sucumbe por completo por conta de coadjuvantes. Um bebê chamado Da, o mafioso Igon Siruss e, principalmente, o trio de aliens Doghan Daguis deixa a história mais deliciosa e motiva o espectador a ver o longa até o fim, sem se cansar. E falando em coadjuvantes, melhor esquecer a participação de Rihanna: é sem sentido e não acrescenta em nada.
Por fim, Valerian me deixou melancólico ao sair da sala. O filme criou um universo lindo e extremamente interessante. O visual é magnífico -- se puder ver em 3D, não pense duas vezes. Mas faltou história e faltou dois grandes atores comandando a produção. Ainda que seja um desejo longe de ser realizado, torço para que Valerian ganhe novos filmes, sob este mesmo universo criado por Besson. É um filme que tem tudo para ser uma franquia “amiga” de Star Wars e Star Trek. Só falta a história perfeita.
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