Na última semana, em meio a quarentena contra o novo coronavírus, o Belas Artes anunciou que o seu serviço de streaming, o À La Carte, estava de cara nova. Depois de um período de testes, para compreender comportamento do público e a desenvoltura do sistema, o tradicional cinema de rua de São Paulo mostrou que irá avançar forte no mundo online com sua própria plataforma.
Mas agora surge a dúvida: vale a pena assinar? Com tantos outros serviço, esse irá fazer diferença? Quais são os benefícios do À La Carte em comparação com Netflix, Prime Video?
Em uma primeira análise, fica claro que o À La Carte é um serviço mais simples. Agora baseada no próprio Vimeo, a plataforma tem algumas limitações e alguns errinhos de navegação. Por exemplo: o sistema não conversa na hora de acrescentar um filme à lista pessoal. Mesmo depois de clicar em "adicionar", no canto superior, a plataforma não repete essa informação.
Além disso, há algumas dificuldades pontuais. Na hora de espelhar a tela, por vezes, a projeção se perde. Ou, ainda, a legenda aparece levemente dessincronizada da fala dos personagens.
Mas o fato é que essas coisas são bobeirinhas e que não interferem gravemente na experiência de usuário. Desde que o vídeo rode e a plataforma tenha conteúdo, não tem problema. E nesse quesito, o À La Carte é um espetáculo. Primeiramente, pelo fato da facilidade de assistir ao filme. Mesmo apenas com site disponível, dá para jogar o filme no Chromecast ou Apple TV.
Nas várias experiências com a plataforma, poucos problemas de tráfego. Uma ou outra travada na imagem, mas nada fora do normal para um período de sobrecarga por conta da quarentena.
E o conteúdo?
Mas o que faz com que o streaming do Belas Artes se destaque no mar de plataformas que existem é a excelente curadoria de conteúdo. Repetindo o cuidado que o Belas tem no próprio cinema físico, há uma diversidade impressionante, ainda que voltada para filmes cults e de cineastas mais desconhecidos. Há cinema de vários países, gêneros, décadas, estilos.
Por exemplo: dentro da plataforma, é possível encontrar grande parte da filmografia do cineasta francês Éric Rohmer. Filmes clássicos como A Mulher do Aviador e a trilogia "dos contos" estão ali, a apenas alguns toques. Produções históricas como Metrópolis e O Gabinete do Dr. Caligari também fazem as vezes no catálogo -- algo impensável de encontrar numa Netflix da vida.
Dessa forma, percebe-se, logo de cara, um amplo cardápio de gêneros e estilos. Não dá para ficar preso num bolha algorítmica, como na Netflix e Prime Video. Aqui, há espaço para descobrir mais cinema, entender mais sobre o que está assistindo e o que pode assistir. Há desde comédias, passando por documentários, filmes de terror e chegando em fortes dramas.
Pensando em diversidade de origens, o À La Carte também chama a atenção. Tem filmes da Tunísia (Meu Querido Filho), Brasil (Carandiru), Coreia do Sul (Em Chamas), Argentina (Eva Não Dorme), Croácia (Filhos do Padre), Chile (Santiago, Itália) e Estados Unidos (Longe do Paraíso).
Há, ainda, outra coisa a se pensar: André Sturm, diretor do Belas, também é uma das pessoas por trás da Pandora Filmes. Nessa crise do coronavírus, a distribuidora já anunciou que vai lançar um filme inédito diretamente na plataforma de streaming. Ou seja: mais do que um receptáculo de clássicos e produções antigas, o À La Carte pode ir além no futuro próximo.
Conclusão
Ou seja: mesmo que contenha alguns probleminhas de performance, o À La Carte é uma opção e tanto para assinatura de streaming. Com preço baixo, de apenas R$ 10,90 ao mês, o serviço oferece um conteúdo que deve agradar quem busca sair do óbvio de Netflix, Prime Vídeo e cia. O catálogo ainda pode -- e deve! -- ser ampliado. Mas já um excelente espaço pra entretenimento.
Obviamente, se você busca uma plataforma com conteúdo mais focado em grandes produções, cinemão americano e grandes lançamentos vindo direto para streaming, vai se decepcionar. O À La Carte é um streaming de nicho, com filmes fora da caixinha. Não adianta assinar, é claro, esperando que estreia aqui um filme da Marvel e afins. É cinema cult, independente. E só.
Vale ressaltar que, no final das contas, você acaba contribuindo com a sobrevivência do Belas. Algo sempre bom de se fazer num País em que cultura e cinema estão cada vez mais sitiada.
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