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Bárbara Zago

'Uma Família de Dois' une drama e comédia em uma história emocionante


Nova comédia dramática francesa estrelada por Omar Sy (Intocáveis e Chocolate), Uma Família de Dois é um daqueles raros filmes que, ao mesmo tempo que entretém e comove o espectador, cria uma nova reflexão acerca da maternidade e, principalmente, da paternidade. Assim, o filme conta a história de Samuel, um jovem atraente, cheio de charme e que é um sucesso absoluto dentre as mulheres.

Um dia, porém, uma mulher chamada Kristin (Clémence Poésy, de Harry Potter) aparece dizendo que "sua filha nasceu". Ele logo fica confuso, corrigindo-a e falando que ele não estava esperando uma filha com alguém. Samuel, porém, finalmente se dá conta de que é o pai do bebê que está no seu colo -- entregue por Kristin, que pega um punhado de dinheiro do rapaz, pega um táxi e parte sem olhar para trás.

Samuel, é claro, corre atrás da mãe de sua filha até o aeroporto, mas sem sucesso. Assim, ele se vê em Londres com uma criança pequena e nenhum plano na cabeça. Sua vida, naturalmente, sai do estado de conforto e muda drasticamente. A partir daí, então, já começam a surgir os primeiros pontos positivos do filme, como o esforço de Samuel em se adaptar à vida de sua filha -- e não o contrário. Ele, então, se muda para Londres, começa um emprego como dublê de filmes de ação e se torna um pai dedicado e afetuoso.

Além disso, a relação criada entre Samuel e sua filha, Glória, também é extremamente comovente. Fica explícito o carinho que ele cria por ela, mesmo que tenha sido obrigado a se tornar uma nova pessoa. Os dois têm piadas internas e brincadeiras,revelando um lado da paternidade que, muitas vezes se espera somente da mãe. Não bastando, coloca em xeque a questão da maternidade como algo natural. Afinal, quem abandona a criança é justamente a mãe. É uma quebra de expectativas, mesmo no atual cenário de transformações sociais.

A quebra de expectativa, no entanto, não acontece apenas com questão da maternidade. Durante o filme, quem ajuda significativamente Samuel- inclusive na criação de Glória - é Bernie, um homem abertamente gay. Mais uma vez, existe a ruptura de um pensamento moldado. Ainda que Bernie o ajude, eles não são um casal e, mais que isso, não existe uma mãe e um pai, como muitos gostam de pensar, e até mesmo rotular.

E com medo de que Glória descobrisse que foi abandonada pela mãe, Samuel cria uma conta para e-mail falsa, passando-se pela mãe de sua filha. Assim, ele manda e-mails à garota, contando que é uma agente secreta, e por isso está sempre viajando e não consegue estar presente. No entanto, oito anos depois do sumiço, a mãe enfim responde e fala que quer vê-los. Após passar alguns dias juntos, não é mais possível que tudo volte a ser como antes. A partir daí se inicia o drama do filme.

Boa parte das críticas sobre Uma Família de Dois estão relacionadas ao fato de ser uma comédia dramática. Apesar disso, o filme sabe dividir muito bem o que é comédia e o que é drama. Logo na primeira metade do filme, a narrativa foca quase que completamente no humor, justamente para que haja essa identificação com o protagonista.

Já quando a história começa a ganhar contornos dramáticos, a mudança de tom é notável, mas o filme consegue tratar os dois gêneros de forma excelente. Acredito que se o filme tivesse o intuito de apenas uma história dramática, teria tido uma aceitação maior por parte da crítica -- como foi visto em À Procura da Felicidade, por exemplo. Porém, mesmo com comédia, o filme separa bem cada gênero, mesclando-os quando existe necessidade. O resultado é uma história engraçado, que prende a atenção do espectador e comove na medida certa.

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