Difícil lembrar de outro filme que tenha feito uma trajetória tão globalizada: o mexicano Eugenio Derbez escreveu e dirigiu, em 2013, o longa-metragem Não Aceitamos Devoluções. Apesar de uma série de erros e limitações técnicas, o filme se tornou uma das maiores bilheterias regionais da América Latina e o maior filme hispânico nos EUA. Em 2017, ganhou versão francesa com Omar Sy (Intocáveis). E agora, a trama sobre a relação de um pai com sua filha pousa no Brasil com o longa-metragem Não se Aceitam Devoluções.
"Nós tropicalizamos a história original", disse o protagonista Leandro Hassum em entrevista após a exibição do filme em São Paulo. Em essência, porém, a trama é a mesma: um homem mulherengo descobre, de uma hora para outra, que é pai. E pior: a mãe abandona a filha com ele. A partir daí, é narrada uma jornada do homem e da filha para que a vida seja mais justa e confortável com os dois. É emocionante, tocante em alguns pontos, divertido em outros. A tal tropicalização, então, fica escondida nos detalhes.
"A gente, antes de tudo, resolveu cortar 20 minutos de filme", explica a produtora Walkiria Barbosa, das comédias Divã e Se Eu Fosse Você 2. "Além disso, inserimos um pouco da cultura do País na casa do personagem e em algumas das situações do filme, trazendo identificação. É algo que não tinha no original e que identificamos como sendo uma falha."
O filme original, aliás, foi um catalizador na escolha do elenco. Leandro Hassum, por exemplo, estava ocupado com um projeto para a TV quando Walkiria o chamou para protagonizar o longa-metragem. Diante da recusa, a produtora sugeriu que o humorista assistisse a versão original. "Eu terminei o filme em prantos", conta Hassum. "E aí vi que seria interessante dar a cara do Brasil para uma história tão emocionante, engraçada e familiar."
Ainda que o personagem de Hassum tenha sido mantido quase inalterado da versão mexicana, outros sofreram alterações interessantes. Jarbas Homem de Mello (O Duelo), que faz um amigo produtor do personagem de Hassum, deixou de lado uma interpretação mais histriônica para criar um personagem mais contido. "Servi de escada pro Hassum e me orgulho muito disso", afirmou o simpático ator. Já o personagem de Zéo Britto, amigo do protagonista, nem existia direito no roteiro original. "Gostei do que foi feito com o personagem", disse o ator, que precisou descolorir o cabelo pra ganhar um ar de surfista.
"Não é fácil fazer um remake do original", finaliza o diretor André Moraes, do longa-metragem Entrando Numa Roubada. "Mas não ficamos presos ao que foi feito antes. A gente deu nossa visão, nosso toque, nosso olhar. E acho, sinceramente, que filmamos a melhor história."
Dramédia. Além da polêmica envolvendo as três versões, também surgiu um debate sobre a figura do comediante em papéis mais "sérios". Jarbas Homem de Mello não tardou em incensar a figura de Hassum nesse quesito. "É um gênio", afirmou o ator e dançarino em entrevista. "É o Jerry Lewis brasileiro que consegue fazer drama e comédia sem ser questionado."
Hassum também mostrou disposição aos papéis dramáticos. "Se me derem um serial killer para interpretar e eu gostar do papel, vou fazer", disse. "Acho que o comediante tem o dever de lidar com o absurdo diariamente. É muito fácil, então, virar a 'chavinha' e começar a fazer um papel dramático. Por isso, não tenho medo ou receio de fazer coisas diferentes no cinema."
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