1. A ideia é muito boa
O Brasil é uma bagunça. Por mais que seja um País com inúmeros bons momentos, é inegável que há grandes confusões. Golpes para todos os lados, cabeças expostas, monarcas tarados, ditaduras, presidentes complexados. Algumas dessas histórias, hoje, acabam em risada -- ainda que sejam tristes, lá no fundinho. E são nelas que o escritor e jornalista Ricardo Mioto foca no seu livro de estreia, Breve História Bem-Humorada do Brasil. Astuto e muito inteligente em suas divagações, Mioto acerta ao tratar a nossa História sem medo, sem reverências em excesso. Ri de todos, sem distinções. E acaba por produzir um livro que consegue misturar boa informação com um riso genuíno.
Historiadores mais conservadores, sem dúvidas, devem se arrepiar quando entrarem em contato com o livro. Afinal, não há grandes aprofundamentos, fortes elucubrações -- o título, que começa com BREVE, já deveria explicitar isso. Mas, claro, há quem reclame. Mas quem embarcar na boa escrita de Ricardo, vai se surpreender com bons paralelos entre o passado e o presente, mostrando como o Brasil, de certa forma, acaba entrando num perigoso ciclo vicioso. E, além disso, trata-se de um livro original. Poucos, até hoje, se aventuraram a contar a história de um País de maneira debochada. Ponto pro livro.
2. E (quase) tudo é muito engraçado.
Por mais que Mioto force algumas piadas, perca a mão em outras e esqueça de dar fôlego aqui e ali, as observações espirituosas funcionam muito no final das contas. E elas miram em todo tipo de assunto, todo tipo de personalidade histórica. Falam desde os nomes tropicalistas dos filhos do durão Bento Gonçalves, passando pela observação de que há grande concentração de Joaquim em creches e asilos e até sobre o verbete na Wikipédia que fala que a BR-307 teoricamente começa numa cidadezinha no Acre.
São comentários ácidos, bem bolados, que funcionam. É difícil fazer rir, de verdade, numa leitura. É preciso de cadência, presença de espírito e de uma observação muito clara de como a narrativa está caminhando. E Mioto consegue, na maior parte do tempo, acertar o alvo. A coisa só perde a graça, mesmo, quando o comentário resvala em assuntos sérios demais, como pedofilia por parte da Igreja Católica ou dos abusos que Kevin Space cometeu. São comentários jogados no ar e que poderia ser dispensados.
3. E, por incrível que pareça, há bom conteúdo histórico.
O grande receio, lá nas primeiras páginas, é que o livro foque muito no humor e se esqueça de se aprofundar no aspecto histórico. Mas nada disso. Breve História Bem-Humorada do Brasil vai das plantações de mandiocas dos índios pré-Cabral à Dilma Rousseff, da libido de D. Pedro I ao satanismo de Michel Temer, da caspa de Jânio Quadros às paixonites de Carnaval de Itamar Franco. Obviamente, nada é aprofundado, analisado sob o ponto de vista histórico, social, antropológico e coisas do tipo. Afinal, como já dito, este não é o propósito do livro. Quem reclamar deve ler Boris Fausto.
Além disso, os paralelos que ele traça entre presente e futuro, por vezes, provoca reflexão. É aquela velha máxima de que a História anda em círculos. As coisas se repetem. Por mais que essa percepção seja um tanto exagerada, há proximidades aqui e ali. E só num livro bem-humorado, de tiradas rápidas, é possível perceber algumas dessas coisas. Isso sem falar de informações que nem sabia e que Mioto recuperou, como o movimento separatista de Pernambuco que ia criar um país chamado Confederação do Equador -- e Juninho Pernambucano, hoje, seria Juninho Equatoriano.
Mas, porém, todavia, entretanto...
Além de algumas piadas forçadas, há um pequeno problema aqui. Apesar do livro se propor a ser leve, divertido e fazer um panorama rápido sobre a História do Brasil, ele não é para leigos. Não é para quem não tem noção da trajetória do País até aqui. Mioto se permite fazer algumas brincadeiras com a realidade e só quem conhece um pouco de Brasil vai compreendê-las. Quem esqueceu das aulas do Ensino Médio, pode ficar a ver navios.
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