Ex-agente secreto recrutado pela CIA, Antonio Veciana não teve medo. Com toneladas de informações guardadas a sete chaves por décadas, o cubano decidiu revelar tudo que sabia sobre a agência de espionagem com Treinado para Matar, que chega às livrarias brasileiras pela editora Seoman e que choca com informações sobre Castro, Che e Kennedy.
Fica claro, nas páginas do livro, que nada mais ficou escondido ou obscurecido na mente e memória de Veciana. Escrito de maneira um pouco protocolar pelo jornalista Carlos Harrison, Treinado para Matar vai organizando e esclarecendo, sem nunca perder o fio da meada, alguns dos acontecimentos mais obscuros da história mundial e, claro, norte-americana.
O despejo das memórias é cadenciado, bem ordenado e disposto de um jeito que fique claro -- e não reste dúvidas -- sobre fatos históricos determinantes para a atual ordem mundial e política. São relatos crus, direto ao ponto, e que sempre contextualizam a situação política, mas que requerem um pouco de conhecimento histórico prévio do leitor.
A morte de Che e as sucessivas tentativas de assassinar Fidel Castro, por exemplo, tomam grande parte da narrativa do livro e se saem melhor nas páginas se o leitor souber sobre alguns fatos históricos, como a Crise dos Mísseis e o início do embargo à Cuba. Mas, de qualquer jeito, são relatos fortes e contundentes -- ainda que pouco surpreendentes.
O grande cerne do livro, então, está nas revelações do assassinato do ex-presidente americano John F. Kennedy, morto com um tiro em Dallas, no Texas. Veciana conta, de maneira extremamente bem detalhada, como entrou em contato com Lee Harvey Oswald -- o suposto assassino solitário do político -- por meio de um agente da CIA. É forte, contundente e tem força para criar teorias da conspiração mais fortes e bem embasadas.
Treinado para Matar é um livro polêmico, forte, cru e realista. Tem uma escrita pouco criativa, como são quase todos livros de memória, mas acerta em cheio no que pretender: provocar dúvidas embasadas sobre fatos históricos consolidados na história mundial. Claro: não dá pra levar tudo ao pé da letra e aceitar como verdadeiro. Mas é um bom começo para uma possível discussão sobre nossa história e política, podendo alterar tudo que sabemos até aqui.
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