Desde o fim de Game of Thrones, a HBO vem ousando ao apostar em produções recheadas de críticas sociais e temas controversos, como Years and Years, Euphoria e Chernobyl. Aparentemente, The Righteous Gemstones não será diferente. A nova série -- desta vez uma comédia -- foi criada por Danny McBride e narra a história de uma tradicional família evangélica mundialmente famosa que enriqueceu pregando a palavra de Deus.
Os Gemstones possuem igrejas luxuosas e programas de televisão, usam roupas extravagantes, realizam eventos tão teatrais que beiram ao ridículo (a maratona de batismo em Hong Kong em uma piscina com luzes psicodélicas logo no começo do episódio é um exemplo), moram em mansões, andam de jatinho particular e têm até um parque de diversões e áreas para a prática de tiro em suas propriedades. Tudo isso graças ao dinheiro doado pelos seus fiéis seguidores. O império religioso, entretanto, pode entrar em colapso graças a uma ameaça de divulgação de um vídeo em que Jesse Gemstone (Danny McBride), o filho mais velho do clã, protagoniza cenas nada dignas de um “homem de Deus”.
Além de Jesse, a família protagonista também é composta por Eli Gemstone (John Goodman), o patriarca que comanda o complexo de igrejas; Kelvin Gemstone (Adam DeVine), o filho mais novo; e Judy Gemstone (Edi Patterson), a única mulher da família fora a falecida mãe.
A série é bastante promissora e o elenco está ótimo. O roteiro é bastante equilibrado e consegue desenvolver bem tanto os momentos mais dramáticos e obscuros da série quanto os cômicos. É evidente que o propósito de McBride é satirizar o mercado sustentado pelas grandes igrejas às custas da fé alheia, o fanatismo religioso e, principalmente, a hipocrisia e a ganância presentes nesse meio -- e cumpre sua missão plenamente neste primeiro episódio.
McBride também acerta ao criar personagens complexos e um enredo que vai além das críticas sociais. Jesse, por exemplo, possui uma relação complicada com o filho que se declara ateu e odeia tudo que é relacionado à religião. Judy sofre nas mãos dos irmãos e pais machistas por não poder participar tanto dos negócios simplesmente por ser mulher, além de ter seu relacionamento e escolhas particulares constantemente ridicularizados pelos homens da família. Já Kelvin e Jesse estão sempre competindo entre si para provarem quem é o melhor pastor, enquanto Eli sente muita falta da falecida esposa. Os dramas e problemas pessoais tornam o enredo ainda mais interessante e deixam o público curioso pelo que está por vir.
Por fim, fica o questionamento: será que os Gemstones começaram com boas intenções e se deixaram corromper ou se tornaram pastores apenas para lucrar com a fé alheia? Afinal, o comportamento dos personagens é o completo oposto do que prega a fé cristã e é intrigante como os próprios cristãos compram essa imagem distorcida do que deveria ser um líder religioso (tanto na série quanto na vida real).
The Righteous Gemstones promete garantir boas risadas e reflexões interessantes enquanto mostra todas as contradições da família tradicional e da Igreja evangélica. A série já está disponível na HBO Go e novos episódios serão lançados todo domingo, às 23h.
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