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Foto do escritorMatheus Mans

‘The Crown’ perde força política, mas cresce em drama na 2ª temporada


A série The Crown é um luxo só. Atualmente, é a produção original mais cara da Netflix -- que aposta em até seis temporadas da história -- e não poupa detalhes ao contar e ao se aprofundar nos bastidores da família real britânica. No entanto, com a segunda temporada já disponível no streaming, fica claro que o foco da série mudou um pouco: saiu todo apelo político inicial da primeira leva de episódios pra investir em dramas familiares e pessoais. E, novamente, deu certo.

Sem o vigor da figura de Churchill (vivido pelo incrível John Lithgow), os criadores Stephen Daldry (Tão Forte e Tão Perto) e Philip Martin (do fraco O Impostor) resolveram dar ainda mais força para a personagem de Elizabeth II, vivida pela revelação Claire Foy, e para personagens que circulam em seu círculo social, como o mulherengo Príncipe Philip (Matt Smith, que se encontrou após Doctor Who) e a intensa Princesa Margareth (Vanessa Kirby), irmã de Elizabeth.

O resultado é uma série bem menos interessante do ponto de vista histórico e político, mas muito mais humana com relação aos seus personagens. As relações entre a família real se estreitam e mostram um desenvolvimento claro em tela, graças ao roteiro inspirado e cheio de vida de Philip Martin. A despeito de algumas licenças poéticas que não condizem com a realidade, a sensação é de que estamos entrando no íntimo das relações reais, como uma mosca na vida de seus integrantes.

E essa acentuação dramática dá cera por conta de Foy. Ela está impecável como a Rainha Elizabeth, se despedindo de um papel que caiu como uma luva em sua carreira -- para os que não viram, a produção da série decidiu usar uma atriz mais velha para a terceira e a quarta temporada. Claire Foy mescla a preocupação da Rainha com a severidade de suas funções com apenas um olhar. É toda sutileza que sua personagem exige junto com toda a intensidade que o roteiro propõe.

Além disso, a série permite algumas transgressões e episódios individuais que tinham tudo para dar errado mas que, nas mãos certas, acabaram se tornando essenciais para a qualidade da série -- alô Stranger Things, vamos aprender aqui! Um episódio aprofunda a vida de Margareth, mostrando os meandros de sua vida. O ponto alto da temporada, porém, é um episódio sobre Philip e Charles. É uma aula de como fazer séries sem linha narrativa, mas que continua com sentido em conjunto.

Assim, com essa mistura de contexto histórico dado na primeira temporada e por todo o desenvolvimento pessoal e familiar visto na segunda leva de episódios, The Crown fecha o seu ciclo inicial de maneira louvável. Apesar de um ou outro exagero, a produção britânica é “redonda” e com um brilho muito particular. Difícil não se afeiçoar aos seus personagens ao mesmo tempo que consome um registro histórico. Agora, é esperar pela nova temporada e seus novos atores.

Se depender do que já vimos até então, tem tudo para ser uma das melhores séries dos últimos tempos. Vamos aguardar!

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