É difícil renovar uma franquia como Star Trek, que já carrega 51 primaveras nas costas. É, afinal, uma trama que encontrou seu público, sua forma de contar histórias e aprendeu com seus erros e acertos. Não é à toa que filmes recentes com o capitão James Kirk e o vulcano Spock utilizaram personagens conhecidos do grande público para trazer frescor à história de maneira parcial e um pouco tímida -- ainda que nas mãos do cineasta J. J. Abrams. E agora chega Discovery.
Nova série original da Netflix, Star Trek: Discovery liberou seus dois primeiros episódios na última segunda-feira, 25. A ideia é ter um novo episódio sempre no comecinho da semana, como já foi feito com séries como Designated Survivor, e que aumentam a ansiedade do público como qualquer trama episódica da TV. E que ansiedade os dois primeiros episódios de Discovery causaram no público. Afinal, mesmo estando no seu início, a série já mostrou ao que veio.
Primeiro: a produção trouxe diversidade ao espaço, seguindo o caminho já iniciado por Star Wars em O Despertar da Força. Afinal, a protagonista da produção é a primeira-oficial Michael (Sonequa Martin-Green, The Walking Dead). Mulher, negra e criada por vulcanos -- pelo pai do Spock, especificamente. A capitã de Michael e da nave Shenzhou, enquanto isso, é Georgiou, interpretada pela sempre competente Michelle Yeoh (Guardiões da Galáxia Vol. 2).
Star Trek, é claro, tem um histórico de diversidade em suas ações, elenco e situações. O primeiro beijo inter-racial da televisão americana aconteceu com a série original, quando a tenente Uhura e o Capitão Kirk, vividos pelos atores Nichelle Nichols e William Shatner, se beijaram. A diferença aqui é que a diversidade saiu dos coadjuvantes e foi direto para seus protagonistas, com um mulher negra e outra oriental assumindo todas as responsabilidades de uma nave.
E vale comentar que Sonequa Martin-Green tem uma força interpretativa muito interessante e que pode deixá-la marcada na franquia -- e não ser apenas mais umas das dezenas de personagens esquecíveis que já passaram pela produção. A única coisa é que a direção da série precisa acertar um pouco mais o tom da personagem. Ela foi criada por vulcanos e algumas de suas atitudes não são condizentes com os ensinamentos da raça de Spock, que presa pela calma e inteligência.
Outro ponto a se destacar é a belíssima ambientação com efeitos especiais de primeira qualidade. Além da forte influência do que foi visto em filmes da franquia com J.J. Abrams, a produção da série criou cenários e efeitos que fazem muito sentido para a TV -- ainda que em menor escala do que em longas-metragem, eles funcionam pela delicadeza e riqueza de detalhes na criação do universo de Star Trek. É de encher os olhos e de emocionar os fãs da franquia.
Além disso, a produção ganha muitos pontos na representação dos Klingons. Ainda que o aspecto da religião saia um pouco do que fãs mais tradicionais acreditam, é muito mais crível e interessante vê-los falando em suas línguas originais do que em inglês, como já foi retratado em outras temporadas da franquia. Só faltou um pouco mais de cuidado no visual. Parecem tartarugas gigantes.
No fim, Star Trek: Discovery é uma ótima aposta da Netflix e mostra ser um frescor para esta série tão amada por fãs em todo o mundo. Agora, é esperar e torcer para que o restante da série, que terá um episódio novo toda segunda-feira, mantenha esse espírito e honre a história de Star Trek. O começo, sem dúvidas, já deve ter animado novos e velhos fãs da franquia. E fique atento: assim que a primeira temporada acabar, o Esquina voltará a dar suas impressões sobre Discovery!
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