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Amilton Pinheiro *

'Sou uma cantora coerente com aquilo que acredito', diz Margareth Menezes


Havia um tempo, não muito remoto, que as ruas das cidades brasileiras eram tomadas pela brisa necessária da música popular brasileira, com seus gêneros diversificados e ricos em sonoridades e temáticas. O centro de Salvador, do início dos anos 1980, com sua arquitetura concreta e seus "artistas de ruas ou não", como diria Caetano Veloso, era um convite à curiosidade dos aspirantes a uma carreira artística. Nesse lugar não tão remoto, Margareth Menezes dava seus primeiros passos nesse sentido. Mesmo sendo moldada a fazer um curso de Direito, ela abria seus olhos e ouvidos para o avô violonista, que a fez aos três anos de idade pedir aos pais – a mãe, dona Diva, costureira e doceira; e o pai, Adelício Soares, motorista – um violão, que só ganharia quando completou 15 anos.

Na escola fez teatro e descobriu, através do seu professor Reinaldo Nunes, que tinha talento para uma carreira artística. “Ele me conscientizou do meu potencial, até então aquilo era uma coisa muito natural pra mim, não imagina que me transformaria em cantora, não pensava em ser cantora, não estava atenta nessa direção. Eu estudava, e pensava em fazer Direito”, relevou ela na entrevista exclusiva que deu para o Esquina do quarto de um hotel que está hospedada em São Paulo antes de fazer dois shows no Sesc Pompéia, na quinta, 12, e sexta, 13, na Comedoria.

Depois que soube que seguiria uma carreira artística, ela saiu de casa, se juntou a um grupo de teatro amador, e foi cantar na noite, como tantos outros cantores fizeram no início de tudo. Daí enveredou por caminhos mais distantes, saindo do centro da sua Salvador familiar para cantar em outras cidades do interior da Bahia. Estimulada por quem a ouvia cantar, ela se arriscou em sair da Bahia e levou seu canto para outros lugares. O Brasil iria descobrir a força da uma cantora afrobrasileira, que primeiro apostou no axé, para logo em seguida ir atrás de outros gêneros que a desafiassem.

“Sou de uma geração que bebeu em tudo isso, então, por que me negar essa possibilidade, por que tenho que ser uma garrafinha pronta ali, entendeu? Eu ouvia Tina Turner, Queen, Rita Lee, Luiz Gonzaga, tanta coisa”, responde contrariada ao ser questionada sobre o estranhamento de parte da crítica e do público quando experimentou cantar músicas mais intimistas. Com vocês os principais trechos da entrevista de uma artista genuinamente brasileira que nunca se deixou engaiolar ou se seduzir pelo brilho falso do sucesso imediato e vazio.

Esquina da Cultura: A primeira turnê que você fez em cima de compositores e cantores nordestinos, a Rebeldia Nordestina I, gerou um disco?

Margareth Menezes: Não, não gerou disco. O propósito mesmo não era gerar disco algum. Essa Rebeldia Nordestina é um projeto que eu venho pensando já faz algum tempo, desde quando eu fiz a turnê Para Gil e Caetano, que era uma homenagem aos 50 anos de carreira deles dois. Foi então que pensei esse projeto. Para Gil e Caetano era uma coisa pontual, que fiz para o Rio de Janeiro, no Teatro Rival, mas acabou crescendo e se transformou em um DVD, que foi lançado pelo Canal Brasil, numa parceria da minha produtora Estrela do Mar com eles. Terminou que rodei com esse show no Brasil inteiro, fizemos mais de cinquenta apresentações.

Esquina: Você ainda segue com esse show Para Gil e Caetano?

MM: Acredito que acabou (risos). Já estou com esse show há um pouco mais de três anos. Foi muito legal. A partir daí eu comecei a refletir sobre isso; fazer um projeto cantando outros compositores da geração de Caetano e Gil, que foram importantes na minha formação artística. E refletindo também sobre a leva de cantores e compositores que vieram do nordeste para o sudeste do país, e que mudou a configuração da música brasileira desde então. Renovou a poesia, refrescou, questionou e reposicionou a música popular brasileira. Engraçado que essa reflexão minha sobre esses artistas foi em cima do que aconteceu lá atrás, na Semana de Arte Moderna de 1922 em São Paulo. Evento importante que mudou os rumos artísticos do Brasil a partir daquele evento. Alguns anos depois, passando por toda uma sequência de acontecimentos, até chegar ao Tropicalismo, movimento que foi influenciado pelos acontecimentos da Semana de 22. Foram eventos que buscaram uma identidade nacional. Voltando ao que falei anteriormente, eu pensei em como refletir todos esses acontecimentos. Foi aí que fiz o Rebeldia Nordestina I, que me apresentei em algumas cidades, estreando em Fortaleza.

Esquina: Como você chegou a lista final dos compositores e cantores desse Rebeldia Nordestina I?

MM: Eu tive que fazer uma catadinha (risos), não dava para colocar todo mundo. Mas eu coloquei Raimundo Fagner, Belchior, que era o mais simbólico dessa geração que veio depois do Tropicalismo, de toda essa rebeldia, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Raul Seixas, Novos Baianos e Zé Ramalho. Fui vendo, nesse processo todo, a relação entre o pensamento de todos esses artistas. Por exemplo, Raul Seixas e Zé Ramalho eram os “malucos belezas”. Entre Fagner e Geraldo Azevedo, apesar de haver várias relações, a que mais se evidenciava era a questão do amor, o amor em suas várias facetas. E Belchior na reflexão mais profunda sobre a vida, sobre a arte, sobre a inadequação que todos nós sentimos em algum momento.

Esquina: Belchior foi um grande cronista da eterna inadequação humana...

MM: Concordo. Era um artista profundo, atemporal, que representou um grito de liberdade. Eu sempre curti muito Belchior, que tinha seu lugar reservado na minha formação artística. Eu vejo também Novos Baianos, que até hoje é algo incomparável na música popular brasileira, importante nesse meu caldeirão de influências. Eles conseguiram gerar algo tão incomum na cena musical brasileira, que vêem colhendo os frutos até agora. São artistas que imprimiram suas personas, suas verdades, suas buscas artísticas, seus lugares de fala e de reflexão e causaram enorme impacto na minha maneira de me enxergar como a artista. Depois desse projeto, veio agora Rebeldia Nordestina II.

Esquina: O que significa Rebeldia Nordestina II?

MM: Nós, artistas que vieram depois desses caras, que bebemos nessa fonte inesgotável, representamos para a música brasileira. Artistas como eu, Lenine, Carlinhos Brown, Zeca Baleiro, Chico César, Jorge Portugal, entre tantos outros, formados por toda essa geração de grandes talentos artísticos. Queria mostrar uma geração de artistas nordestinas que foram influenciados por todos esses caras, e que deram continuidade a todo esse legado musical. É projeto muito importante pra mim. O show que faço em São Paulo, coloquei também outros artistas como Gilberto Gil, que não tem como não colocar (risos). Misturei um pouquinho todo esse caldeirão musical, até porque não apresentei o show Rebeldia Nordestina I aqui em São Paulo. Quis colocar alguns artistas do Rebeldia Nordestina I dentro do II. Além de todos esses artistas, canto uma música da compositora Flávia Venceslau, paraibana, da nova geração de compositores nordestinos. Flávia vem sendo bem acolhida pelos cantores, foi gravada por Maria Bethânia e pelo padre Fábio de Melo. Eu também vou gravá-la no próximo disco de inéditas. Além disso, faço uma referência ao Baiana System, que não tem o que falar. Nesse Rebeldia Nordestina I e II, quero mostrar como toda essa poesia musical nordestina chegou no sul, sudeste, transformou a música popular brasileira contemporânea.

Esquina: Em algumas entrevistas você diz que não gostar de um gênero musical não pode ser visto como falta de respeito. Vivemos em um momento de cerceamento, do politicamente correto, de intolerância, polarização, etc. Como você enxerga tudo isso?

MM: As coisas estão muito misturadas. Infelizmente aconteceu alguma coisa nesse processo todo que estamos vivendo, que fez com que o povo misturasse sua maneira de enxergar tudo isso. Hoje em dia tudo está tão complicado que às vezes é melhor você economizar suas falas, para não ser mal interpretado, para não ser xingado, etc. Tudo está muito maluco. Mas acho também que não dá para você se furtar em falar o que pensa sobre algumas coisas. Não dá para ficar na defensiva de tudo, não é? Então, precisamos falar algumas coisas. Cada um tem o direito de dizer o que pensa. Cada artistas tem sua formação, sua reflexão, sua maneira de enxergar o mundo, que precisa ser dita. Dizer que não gosta de alguma coisa, não é desrespeito. Desrespeito é falar de uma maneira pejorativa sobre algo, mas dizer simplesmente que não gosta, é um direito e não um desrespeito. Não tenho obrigação de falar que tudo é bom.

Esquina: Como você conseguiu construir uma carreira de três décadas sem abrir concessões?

MM: Você tem que ecoar mais aquilo que acredita. No processo de formação de todo artista, ele tem que perseguir o caminho que acredita. Identificar que as escolhas que fará molduram a maneira como os outros o enxergaram. O artista tem que saber o limite do que ele quer para si. Então, ele precisa se posicionar em determinado momento, criar uma identidade. Para mim, seria muito difícil eu ter nascido na Bahia, por tudo aquilo que a gente tem lá, apesar de não me sentir regionalizada, não guardar as coisas de lá. Em mim, não tem como não ver a percussão, essa dinâmica afrobrasileira. Posso cantar alguma música sertaneja, que por sinal já cantei, sem me descaracterizar, sem deixar aflorar minha identidade. Não significa que vou aderir ao estilo sertanejo, significa que aquilo também me agrada. Algumas coisas são boas nesse gênero, como também têm outras muito ruins, como em qualquer estilo. Têm coisas que acho belíssimo no sertanejo, assim como o funk mesmo. É muito difícil hoje você dizer que tal coisa não presta.

Esquina: Se você pegar dois gêneros, como por exemplo, o axé e o forró, percebe-se que eles se descaracterizaram muito ao longo desses 20 anos. Hoje as letras de grande parte desses gêneros são vulgares, apelativas e as temáticas praticamente se restringem ao amor possessivo, apologia a bebida, ao sexo, e ao consumo como fonte de felicidade eterna...

MM: (Risos). É por que essa é a vivência dessas pessoas atualmente, infelizmente. Se você fala hoje de bebida, de mulher nua, etc, são temas que ficaram naturalizados, como se fosse normal ser assim. Mas a gente tem ainda pessoas que trabalham seriamente com isso. O problema que vejo é o espaço que se dá para esse tipo de música que você está citando e o espaço que se dá para um cara que quer fazer um forró mais original, por exemplo. A mesma coisa serve para o axé. Os espaços da mídia priorizam esse tipo de música, digamos, mais comercial. O Brasil é um país completo em todos os sentidos.

Esquina: Você acha que o Brasil está melhorando?

MM: Na verdade, não sei para onde a gente está indo (risos). Agora tem uma coisa que acho que é muito boa, que é a chegada da internet, do uso que se faz dela hoje no mundo artístico. Você agora pode se comunicar diretamente com o seu público sem precisar de intermediários. Isso para mim desmontou uma pirâmide que estava aí, que dava poder para poucos.

Esquina: O que você acha das ditas celebridades?

MM: Não tenho nada contra, até porque elas existem por causa de um público que gosta delas. As pessoas se ligam nesse tipo de personagens. São personagens que entendem que são personagens, isso é uma maneira inteligente de se enxergarem. Eles são autoempreendedores, que se alimentam desse mundo. Mas voltando a internet, vejo que está sendo muito proveitoso para o artista poder contar com ela para chegar ao seu público sem necessitar passar pela pirâmide das mídias tradicionais. Hoje, você pode produzir sua música, jogar na internet e atingir seu público, sem intermediário, isso é fantástico. É uma ferramenta muito importante, apesar de alguns artistas não acharem.

Esquina: Como você usa as redes sociais e a internet?

MM: Agora estou amadurecendo para isso. Comecei a usar normalmente, como qualquer um começa a usar. Mas percebi que ela pode ser melhor explorada. Existe um potencial muito grande nas redes sociais e na internet. Recentemente li uma reportagem na Folha de São Paulo que falava de uma pesquisa que fizeram entre 2014 a 2018, entre os quinze artistas brasileiros mais vistos no canal do Youtube, e eu sou a décima segunda artista brasileira mais vista no mundo. E eu não sabia disso, foi uma surpresa. Olha que coisa. Essa notícia mudou completamente a nossa maneira de se relacionar com isso. Agora passamos a dar mais atenção às mídias sociais, tentar entender o seu alcance na minha carreira. Não estamos falando só do Brasil, estamos falando de mundo.

Esquina: Aproveitando que você falou em mundo, como anda sua carreira internacional? Desde 1990, você passou a fazer shows internacionais, já vendeu muito bem em países como França, Suíça, Estados Unidos, recebendo excelentes críticas nos principais jornais desses lugares, e sendo muito bem acolhida pelo público. Mas parece que nos últimos anos essa carreira estacionou. O que aconteceu?

MM: Investir numa carreira internacional não é fácil. Tem hora que está bem, outras nem tanto.

Esquina: Faltou você se dedicar mais, fazer algo mais específico?

MM: Eu tive um momento muito importante, quando comecei a fazer os shows de abertura de David Byrne, líder do grupo Talking Heads, que me abriu todo esse leque de possibilidades. Além disso, as músicas que estava cantando, como, por exemplo, Faraó e Ellegibô, que foram sambas-reggae emblemáticos dentro da música popular brasileira, e Ellegibô, especialmente, que foi para Europa toda, fizeram um clipe na Suécia e ficou onze semanas em primeiro lugar na World Music americana. Além da minha maneira e força de cantar. Tudo isso ajudou, naquele momento, esse início tão difícil numa carreira internacional. O que a gente vem gerando, depois de tudo isso, é alimentar esse caminho já feito lá fora. Eu, no entanto, não tenho um acesso grande dentro da mídia televisiva. Mas estou sempre buscando um projeto novo, diferente, para melhorar a carreira. Isso tudo vai dando vida, novos olhares e movimentos para carreira. O que nunca deixei foi que o não que recebi não atrapalhasse o sim que recebi lá na frente. Nesse momento de 30 anos de carreira, estou em outro movimento.

Esquina: Você começou como atriz, lá atrás, em Salvador no início dos anos 1980, vindo dessa geração de “cantrizes”, como Elba Ramalho...

MM: De fato, venho dessa geração de “cantrizes”, que a música entrou depois. Mas foi um processo muito bacana. Comecei a fazer teatro na escola, sempre cantando, inclusive em corais da igreja. Música é minha base, sempre foi, desde cedo. Meus pais me deram um violão quando completei quinze anos. Meu avô tocava violão, aos três anos eu pedi um violão para minha mãe. Fui criada num ambiente em que a música era muito forte. No bairro onde morava, acontecia muito serenata. Então, isso foi despertando meu interesse pela música. Na escola, eu conheci um professor de teatro, Reinaldo Nunes, que me conscientizou do meu potencial, até então aquilo era uma coisa muito natural pra mim, não imagina que me transformaria em cantora, não pensava em ser cantora, não estava atenta nessa direção. Eu estudava, e pensava em fazer Direito. Mas a vida foi me trazendo para essa carreira artística. Participei de um grupo de teatro amador, depois comecei a cantar na noite e participar de um grupo teatral pela manhã. No determinado momento sair da casa dos meus pais, para morar com um grupo de artistas. Tudo isso serviu para eu amadurecer nessa direção.

Esquina: Teus pais permitiram você sair de casa. Eles incentivaram sua carreira artística?

MM: Que nada, foi uma batalha (risos). Mas minha mãe permitiu, pois sabia que era um querer de cada um. Ganhei o primeiro Troféu Caymmi, projeto que incentiva cantores emergentes, como intérprete. Conquistei outros troféus Caymmi durante a carreira, que sempre achei importante porque projetava os artistas que queria seguir aquele caminho artístico. Depois comecei a fazer shows em cidades do interior, depois comecei a cantar fora da Bahia, aí a carreira de cantora prevaleceu. Mas o que eu aprendi no teatro serve para minha carreira, sou uma artista de palco, que faz toda minha base de performance. O trio elétrico foi outra escola, que me ensinou a mexer a massa, movimentar o povo. O palco é outra coisa, é um lugar sagrado, lugar de energia.

Esquina: Você usa o palco como intérprete, mas nunca quis fazer trabalhos como atriz, um filme, uma novela? A Elba Ramalho, por exemplo, que era atriz e depois virou cantora, fez alguns trabalhos...

MM: Pois é, eu nunca fiz nada nesse sentido. Fiz uma participação na minissérie Canto da Sereia, na Rede Globo, no papel de uma delegada. Mas de fato, nunca fiz algo expressivo como atriz.

Esquina: Depois da turnê desse show Rebeldia Nordestina II, o que você pretende faze, já que tem outro formato de espetáculo, o Margareth Menezes Falando de Amor? Por sinal, seus trabalhos mais intimistas, como o álbum Pra Você e Naturalmente, causaram estranheza e críticas negativas, que acharam trabalhos muito distantes de sua persona artística, pop demais para uma cantora como você...

MM: É por que é difícil, é muito preconceituoso. Sou de uma geração que bebeu em tudo isso, então, por que me negar essa possibilidade, por que tenho que ser uma garrafinha pronta ali, entendeu? Eu ouvia Tina Turner, Queen, Rita Lee, Luiz Gonzaga, tanta coisa. Mas independentemente do que eles falam, eu continuo sendo do jeito que sou. Ninguém vai me trancar em gaiola nenhuma. O que pode me trancar é o que está dentro do meu coração. Nunca vou permitir que uma crítica determine o que posso ou não fazer. Isso é oriundo de preconceito, por que quando comecei a cantar tocava guitarra, cantava uma coisa mais próxima do rock in roll. Imagina, uma mulher negra, baiana, pobre, querer fazer isso? Isso é muito preconceito, uma visão que quer lhe empacotar você. Ou você é sambista, cantora de axé, etc. Então, isso não me pertence. A música popular brasileira é muito ampla. Venho ao longo desses 30 anos, pesquisando, experimentando, arriscando. Não me vejo como um artista que veio ganhar dinheiro com a música, não é isso. Música é minha vida, minha vivência. Se eu achar uma coisa interessante, vou tentar interagir com ela, não tenho limites. O limite que eu tenho é me experimentando, até por que busco as novidades para digerir e depois transformar em algo que acredito. Se as pessoas escutarem meus CDs, vão notar que sou uma cantora coerente com aquilo que acredito e que sempre busquei, que é a música popular brasileira. Sou um artista que tenho que ter liberdade para buscar algo em que acredito. Meus parâmetros são Gilberto Gil, Caetano Veloso, Elba Ramalho, que sempre buscaram essa liberdade de se experimentar. Por que eu não posso fazer um disco intimista? O que me limita a isso? O importante é olhar a qualidade vocal, do arranho do disco. A gente aceita isso dos cantores estrangeiros, mas quando chega no Brasil, a gente não aceita. Quero ir mais além.

Esquina: Mas você não se deixou abater, continuou apostando em suas escolhas, se testando, etc...

MM: Não poderia ser diferente. Um desses meus projetos intimistas, é esse Margareth Menezes Falando de Amor, bem intimista mesmo, pois canto coisas da época de minha mãe, passando pelo geral de outras coisas, como a música Boêmia (risos), até chegar em algumas composições minhas, do Carlinhos Brown, e vou para outros lugares. A gente tem que se arriscar, não tem que ficar somente na sua zona de conforto. Eu sou assim, buscando sempre coisas novas, mesmo que elas estejam no nosso rico passado musical.

Esquina: Você está com alguma coisa concreta nesse sentido?

MM: Vou parar um pouco agora para começar a produzir. Vamos produzir um EP novo, o primeiro EP pra valer, com gravações novas. Estou nesse processo agora.

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