Quando Selton Mello encerrou gravações da terceira temporada de Sessão de Terapia, em 2014, já estava cansado de ficar atrás das câmeras. Diretor de 115 episódios consecutivos da série, ele queria tirar um tempo para atuar e para cuidar do seu mais recente projeto, O Filme da Minha Vida. Não parecia que retornaria tão cedo pra produção que foi sucesso no canal pago GNT. No entanto, cinco anos depois, ele volta ao posto de diretor com a missão de renovar a série. E mais: não apenas atrás das câmeras, mas também como o seu novo protagonista.
“Só Freud explica a relação de amor com essa série”, brinca o ator ao ser questionado sobre sua assinatura em todos os episódios da produção. Nessa quarta temporada, ele substitui Zé Carlos Machado como Caio, um psicólogo jovem, atento e dedicado, mas que guarda uma tragédia particular para si. Ao longo de 35 episódios, ele será o responsável por atender quatro pacientes: uma idosa que quer se suicidar, uma pré-adolescente que sofre bullying, um homem que não consegue lidar com o sucesso da esposa e uma atriz famosa na internet.
Além da mudança de protagonista, Sessão de Terapia ganha novo formato. Deixa o GNT e ganha espaço no Globo Play, serviço de streaming da emissora carioca. “Esta temporada é um desafio maior. Começamos tudo do zero”, diz o produtor Roberto D'Avila, da Moonshot Pictures. “Mas a gente pensou nela para ser consumida no streaming. Se a pessoa quiser, por exemplo, pode ver todos episódios de um único paciente de uma vez só e a série ainda faz sentido. A gente quer que ela chame a atenção no meio de tanta oferta de conteúdo que existe hoje”.
Selton ainda destaca que a série está mais próxima da produção que a inspira, a israelense BeTipul. As histórias são quase que inteiramente passadas no escritório do personagem Caio e de sua supervisora, vivida por Morena Baccarin (Deadpool). “A série é uma mistura de vários formatos. Tem linguagem de teatro, de cinema, de televisão”, diz o ator e diretor. “Esta é a segunda temporada que partimos de personagens inéditos e criados por nós. Mas há uma ligação com a essência dessa série original. São dramas de pessoas contados para pessoas”.
Personagens
Nos episódios da quarta temporada conferidos pelo Esquina, as histórias de dois pacientes saltaram aos olhos: de Haidée (Cecília Homem de Mello) e de Nando (David Júnior). O drama da primeira, sobre uma senhora que quer se suicidar por não se ver mais como uma pessoa útil, é o que traz elementos mais contrastantes. Há uma graciosidade na figura interpretada por Cecília, que é diretora de elenco na produtora O2. “Resolvi voltar a arriscar como atriz. O projeto me encantou e quis entender melhor a minha personagem”, diz.
Já David Júnior, da novela Pega Pega, traz um personagem difícil de lidar e de simpatizar. Ele, afinal, não consegue mais sentir prazer sexual com sua esposa, mulher empoderada e de carreira consolidada. “Ele precisa se sentir melhor o tempo todo. Precisa passar por cima dela. Sem isso, ele não se satisfaz”, afirma o ator. “Foi o papel mais difícil de toda a minha carreira. Ele trouxe nuances que foram difíceis de lidar enquanto ator. A cada sessão com o personagem do Selton Mello, parecia que o Nando piorava e encontrava fantasmas para lidar”.
Jaqueline Vargas, roteirista da série também desde a primeira temporada, conta que precisa tomar cuidado no desenvolvimento desses personagens. “É um trabalho de roteiro sutil, que não permite erros. A profissão do psicólogo é muito séria e envolve dramas humanos, muito reais. Qualquer erro pode afetar as pessoas e pôr tudo a perder”, explica ela, que tem um terapeuta como consultor. “Preciso falar sobre o que as pessoas não dizem, respeitando isso”.
Para Zé Carlos Machado, que aprovou essa nova leva de episódios e faz uma participação especial, há algo de encantador na série que a fez perdurar por tanto tempo. “Sessão de Terapia fala sobre amor, que á algo que precisamos muito hoje em dia. E que, infelizmente, está em falta”, afirma o ex-protagonista. “Espero que, como nas outras temporadas, a série continue a fazer com que as pessoas procurem mais terapia, os psicólogos. É algo que ajuda, que é saudável. E que pode trazer esse amor, que tanto nós precisamos, de volta pra gente”.
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