“E pensar que era pra você ser o noivo”, disse minha mãe quando mandei no grupo da família as fotos do casamento do meu amor de infância. Não vou citar nomes por motivos óbvios, mas história é engraçada.
A Noiva foi meu amor de infância dos 7 aos 14 anos. Taurino como sou, fiquei apegado na loirinha de cabelo comprido por 7 anos. Éramos muito amigos e além dos trabalhos em dupla dividíamos também o lanche na hora do recreio. Aos 10 entendemos que o que a gente sentia um pelo outro era um pouco mais que amizade e entramos em um relacionamento fervoroso de crianças de 10 anos: mãozinha dada, cartinhas de amor com nome falso pra ninguém descobrir e beijinhos escondidos durante o recreio. Enquanto escrevo isso sinto as mesmas borboletas estomacais que sentia quando ia pra sala de aula antes do recreio acabar para encontrar com ela e darmos um beijinho inocente cheio de carinho. Também dou risada ao tentar lembrar que meu nome falso provavelmente era Luis Fernando – Maria la del barrio soy yo! O dela não me lembro, mas ia na mesma linha mexicana.
“Podia ter convidado você, hein! Chamou pros 15 anos e não chamou pro casamento”, reclamou minha mãe no segundo áudio do WhatsApp. Pensei a mesma coisa, mas há 10 anos que não nos vemos pessoalmente e não faria sentido algum. Casamentos são caros, a cabeça do convidado vale um olho da cara. E a Noiva me evita. Não sei por que, mas evita. Chamei diversas vezes pra sair, tomar um café, botar o papo em dia. Crescemos juntos e era o tipo de contato que pra mim faria muito gosto. Temos muita afinidade em filmes, livros, programas de TV, porém somos diametralmente opostos no quesito família e religião. Foi esse o motivo que ela me deu quando a pedi em namoro aos 15 anos. O destino e os deuses são sábios nos caminhos que abrem para uns e outros trilharem: eu me assumi gay um tempo depois e ela ficou um pouco desapontada com a notícia; ela é evangélica da Congregação desde que nasceu e eu nunca tive religião - virei macumbeiro há pouco mais de um ano. Entenderam, não?
Minha mãe começou a devanear: “bonito o noivo, mas você é mais. Se aparecesse lá, ela desistia”. Não sou o único noveleiro da família, como podem perceber. Mas devo concordar que a cena seria interessante e renderia uns memes na internet: imagina a Noiva correndo pela Congregação e fugindo com um cabeludo usando roupas apertadas para mostrar os músculos da academia? Porque o tempo também trouxe essa novidade. De gordinho a sedentário a subcelebridade fitness de academia. A Noiva mesmo já reconheceu isso em um papo rápido por mensagem que tivemos um dia desses. Ela entra pouco nessas redes sociais, curte um foto, comenta algo. Nem essa distância fomos capazes de encurtar.
Pra terminar, mais uma reclamação de mamãe: a falta de netos. “Cêis são de todo mundo e não casam com ninguém, nem com homem nem com mulher. E eu fico sem neto. Afff”. De fato. Se depender da prole de mamãe a família acaba. Por isso desejo a minha amiga Noiva um casamento muito feliz, cheio de respeito, amor, companheirismo e amizade. O carinho da amizade é uma coisa de louco, não passa nem com os anos nem com a distância. Prometo que um dia escreverei aquele livro que você pediu, sobre nosso companheirismo, carinho, brigas e birras, reconciliações e recomeços. Amizade é isso.
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