Chegou aos cinemas na última quinta-feira, 29, o longa-metragem Robin Hood: A Origem, que tenta reconstruir a jornada do ladrão inglês que roubava dos ricos para dar aos pobres. Apesar de nunca ter tido sua existência comprovada, a figura do "príncipe dos ladrões" continua a influenciar a cultura pop de maneira frequente, principalmente no que concerne ao cinema -- como é o caso do novo filme estrelado por Taron Egerton. No entanto, de onde vem esse mito e por qual motivo ele se prolonga por tanto tempo?
No novo filme, os roteiristas Ben Chandler e David James Kelly partem do princípio de que Robin é um lorde de Nottingham, na Inglaterra, e que, em determinado momento, é enviado para as cruzadas -- e, assim, conhece John, passa a ter asco dos ricos e do imposto cobrado dos pobres, e por aí vai. Para Chandler e Kelly, é ali que são formados os alicerces do mito que, séculos depois, viria a influenciar a história e até a concepção das características de um anti-herói. Porém, é tudo imaginação ao redor dessa lenda.
Segundo o historiador James Clarke Holt, um dos maiores especialistas do período medieval britânico, nomes como Robehod, Hobehod ou Robert Hod já circulavam em aldeias inglesas no século XIII. Já o primeiro registro literário veio em meados do século XIV, no texto Piers Plowman, de William Langland. Depois disso, só viria a protagonizar uma história na balada Robin Hood and the Monk, em 1450, quando começa a ter traços notáveis, como xerife de Nottingham como vilão e ambientado na floresta de Sherwood.
No entanto, ainda assim, não se pode atribuir uma única imagem em cima do ladrão dos ricos. Afinal, mais do que a inspiração em cima de um único personagem, Robin Hood confere um trabalho imaginativo coletivo e inspirado em diversas lendas -- como pode ser conferido melhor no quadro abaixo. Ao longo dos tempos, ele se transformou: foi de um bandido com traços cruéis para um nobre com anseios sociais; de um homem que usava as próprias mãos para um hábil utilizador do arco-e-flecha, que nunca errava.
"Alguns historiadores, muitos deles amadores, pensam que havia uma pessoal real chamada Robin ou Robert Hood, um fora-da-lei medieval. Minha opinião é que essa explicação é em si um mito, que celebra o individualismo moderno", afirma Stephen Knight, historiador inglês e autor de Robin Hood: a Mythic Biography, em entrevista exclusiva ao Esquina. "A figura de Robin é uma junção de coisas. Não é servo, nem proprietário. Está sempre ligado à natureza, e também é uma figura da lei natural, resistindo a forças seculares brutais como a xerife e figuras opressoras da Igreja."
Mistura
Já são mais de 80 representações de Robin Hood nas telas dos cinemas e da TV. A primeira e mais expressiva aparição foi em As Aventuras de Robin Hood, de 1938, onde o excelente Errol Flynn dá vida ao príncipe dos ladrões. É o típico filme capa-e-espada, onde a figura de Hood é tratada com respeito e admiração pelos diretores Michael Curtiz e William Keighley. Antes disso, porém, Allan Dwan já tinha retratado o herói em 1922 com um filme mudo divertidíssimo e cheio de humor físico. Pérola do início do cinema.
"Por meio do sucesso teatral, musical e literário de Robin Hood, no início de sua lenda, a sua figura se tornou amplamente conhecida em todo mundo. Depois os americanos, com o cinema, tendem a torná-lo um lorde ou nobre, usando-o como algum herói medieval. Ilustrações de Howard Pyle, em 1883, ajudaram a criar essa figura", continua a contextualizar Knight ao Esquina. "Já nos tempos modernos, incluindo no cinema, a figura de Marian desempenhou um papel considerável e ganhou boas atuações."
Depois disso, "foi aberta a porteira" de produções sobre o herói do arco-e-flecha. Virou animação pelas mãos da Disney; um estranho desenho onde coloca Hood no espaço; filmes de ação grandiosos; uma comédia típica dos anos 1990; uma série mediana; e muitas outras tentativas de colocar o personagem na frente das câmeras -- segundo o site IMDb, que cataloga produções audiovisuais ao redor de todo mundo, há mais de 200 títulos envolvendo o personagem inglês, contando filmes, séries, desenhos e curtas.
Isso, ainda, sem contar participações especiais do personagem, como na série britânica Doctor Who, e inspirações direta na figura, como o herói Arqueiro Verde, da DC.
Para o especialista em Robin Hood, a magia ao redor do personagem continua longe de arrefecer -- apesar do eminente fracasso desse novo longa-metragem que acabou de chegar aos cinemas. "Colocar Hood como um guerreiro das cruzadas é uma tendência moderna, como no filme com Russell Crowe, mas ele nunca foi um cruzado. Isso é mais uma forma do mito inglês para glorificar o retorno de algum herói", disse o historiador. "O mito sempre muda de acordo com o contexto. Isso significa que ele também pode se tornar fraco e tolo nas mãos de cineastas ruins. E há muitos exemplos disso, como, infelizmente, parece ser o caso deste novo filme com Taron Egerton no papel principal."
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