O que é se corresponder? No mundo das artes, mais do que manter um canal de comunicação, a correspondência é o diálogo, a troca de experiências e a difusão de um ou mais conhecimentos adquiridos. Assim, é extremamente pertinente o título Correspondência, primeiro álbum do compositor e instrumentista Rodrigo Marconi. Com seis obras divididas em 15 faixas, o disco transita entre o erudito e a literatura mundial.
"Sempre tive uma relação muito profunda com diversas expressões artísticas", disse o músico carioca em entrevista ao Esquina. Em uma das faixas, Golpes de Pequenas Solidões, há um claro diálogo com a obra do escritor e filósofo Roland Barthes -- tudo por meio de flauta, clarinete e vibrafone. Já na elegante Brechtianas, prestam uma bela e justa homenagem ao poeta, dramaturgo e encenador alemão Berthold Brecht.
É, enfim, um delicado disco, para ser ouvido com calma, com um livro nas mãos, apreciando o passeio das notas de Marconi pelas páginas da História dos livros. É a conversa entre duas artes, primais e essenciais, de sua forma mais bela, complementar.
Abaixo, confira a conversa do Esquina com o compositor e instrumentista carioca. Para ouvir o disco, só ir no Spotify ou no Deezer.
Esquina da Cultura: De onde veio a inspiração para o álbum?
Rodrigo Marconi: Sempre tive uma relação muito profunda com diversas expressões artísticas: cinema (fiz trilhas vários filmes), teatro (como compositor e professor de música da escola de mais antiga na América Latina: a escola de teatro Martins Penna), além de uma admiração pela fotografia e uma paixão por literatura. De forma que essas paixões dialogam e permeiam, mesmo sem querer, a minha atuação como compositor.
Esquina: O disco possui uma forte interação com a literatura. Como fazer com que o diálogo entre a música e as letras seja sutil, mas ao mesmo tempo perceptível ao ouvinte?
Rodrigo: É uma tarefa com complicada tentar transportar para os sons o discurso literário. Diria ser impossível. Mas a literatura permeou a cabeça e coração de uma série de compositores que produziram óperas, canções e poemas sinfônicos. No meu caso a literatura serve de alimento e de um start para o desafio de encher de sons um espaço e de dialogar com o público.
Esquina: Quais são os desafios de fazer música erudita no Brasil de hoje? Como alcançar todos os espectros da sociedade?
Rodrigo: Fazer música erudita, acredito que em vários países, é um desafio gigantesco por várias razões: essa música não virou um produto de entretenimento e não é absorvido pela indústria cultural. O compositor Willy Correia de Oliveira chegou a afirmar que a música de concerto não presta ao capitalismo. Ela tende a ser mais exploratória, propondo e produzindo uma nova estética. Um risco muito maior que os clichês oferecidos para a população pelas gravadoras e multinacionais.
Esquina: Quais são seus planos após o disco?
Rodrigo: Estou acabando de escrever uma ópera sobre a poetisa portuguesa Florbela Espanca. Deve estrear ano que vem. Além disso, comecei uma parceria com o guitarrista Marcio Okayama e escreverei uma série de 20 pequenas peças para guitarra elétrica baseada nos tratados da eloquência do corpo escrito no século XV!
コメント