Numa noite fria de quarta-feira, 12, no incomum e belo Teatro Ópera de Arame, o Olhar de Cinema, Festival Internacional de Curitiba, abriu sua 13a edição com a primeira exibição do novo longa ficcional de Marcelo Gomes, Retrato de Um Certo Oriente, que passou pelo Festival de Roterdã, e estreará em 23 de novembro no Brasil.
Baseado no livro Relato de Um Certo Oriente, do escritor Milton Hatoum, lançado em 1989, o filme de Marcelo Gomes não é somente um exitosa transposição de uma obra literária que obedece diversas camadas intimistas da memória de sua personagem principal, Emilie, mas também um belo encontro de artistas, Marcelo e Milton, que têm no outro suas atenções e intenções de falar e expressar.
Filmado em preto e branco e compondo sua narrativa cinematográfica nos temas que serão trabalhados pela obra de Milton Hatoum, Marcelo se apropria do livro do escritor para tocar nos pontos mais caros da sua filmografia robusta e cheia de histórias envolventes, como: Alteridade, desejo e memória.
O cineasta estreou no cinema com o curta-metragem Maracatu, Maracatus, em 1995, depois vieram os longas ficcionais e documentais como: Cinema, Aspirinas e Urubus (2005), Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo (2009), Era Uma Vez Eu, Verônica (2012), O Homem das Multidões, codirigido por Cao Guimarães (2013), Joaquim (2017), Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar (2019) e Paloma de 2022.
O filme conta a história de dois irmãos libaneses, Emilie e Emir, que fogem do Líbano em 1949, depois de inúmeros conflitos locais que mataram seus pais e destruíram uma possibilidade de viverem em sua terra natal, para se aventurar num lugar distante e cheio de incertezas nos trópicos brasileiros.
Com uma das melhores reconstituições de época do cinema brasileiro, o filme narra a jornada intimista desses dois irmãos nessa travessia entre oceanos e rios até chegarem numa calorenta Manaus, mas antes enfrentarão as consequências de seus desejos mais reprimidos, a intolerância que advém de choques culturais e um mundo que se abre para o novo.
Diante de uma deslumbrante fotografia em preto e branco e efeitos sonoros dos barulhos do barco e das matas tropicais, o filme vai tecendo seu enredo na busca constante desses personagens tentarem entender o que a vida vai mostrando em sua margem.
O filme foi muito bem recebido pelo público que lotou o Teatro Ópera de Arame com uma calorosa palmas no final da sua projeção, que agradou o diretor, o escritor Milton Hatoum e parte da equipe, como conta Marcelo Gomes na entrevista para o Esquina em vídeo.
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