A autora francesa Virginie Grimaldi é um daqueles sucessos literários que surgem de tempos em tempos. Sensível, a escritora ganhou força no exterior nos últimos anos com tramas emocionais, dramáticas, potentes. Agora, suas palavras são traduzidas para o português pela primeira vez com o delicado romance Tempo de Reacender Estrelas, pela Editora Gutenberg.
Com foco no drama familiar, somos convidados a acompanhar a jornada de um núcleo familiar. No topo, a mãe. Anna tem 37 anos, está separada do marido e perdendo o controle das dívidas aos poucos. Além disso, também começa a se afastar das duas filhas adolescentes. Chloé tem 17 anos e começa a sentir os dissabores da vida. Já Lily tem 12 anos e o diário como confidente.
A partir daí, acompanhamos as três numa viagem de reaproximação. Um road book típico. Afinal, Anna tem a ideia de levar as duas filhas numa viagem pelas estradas da Europa até os países escandinavos com objetivo de ver a Aurora Boreal. É uma história íntima. Somos, como leitores, intrusos na intimidade dessas três, que vão se descobrindo e se revelando nas páginas.
Real e natural, o livro mostra rapidamente uma das melhores características de Grimaldi como escritora: a força de suas personagens. Sentimos raiva de Chloé em alguns momentos, desespero pelas tentativas de Anna, riso com as sacadas infantis de Lily. Grimaldi quase que nos transforma em um quarto passageiro nesse motorhome tão imprevisível. É um mergulho.
Há alguns clichês óbvios que são acionados pela autora e colocados nessa jornada, vistos em qualquer história de estrada — como Pequena Miss Sunshine ou o ótimo filme Procura-se Um Amigo para o Fim do Mundo. São transformações óbvias dos personagens, esperadas desde a página 1. Não que seja totalmente ruim, já que aciona uma espécie de caminho confortável.
No entanto, não há grandes surpresas. Essa monotonia, porém, é quebrada com uma escrita criativa de Grimaldi, que vai separando os pontos de vista da história entre as três personagens, inclusive adotando formatos de redação diferenciados. Isso ajuda não só a história a ganhar mais identidade, como também faz com que o leitor tenha essa sensação de dinamicidade.
Dessa forma, encontramos em Tempo de Reacender Estrelas uma história gostosa, emocional, forte, real. Há alguma previsibilidade no que é contado, sim. Mas, muitas vezes, é justamente isso que procuramos, não é mesmo? Um livro para passar o tempo, viajar com as personagens e, quem sabe, se descobrir junto com o avançar das páginas. Enfim, para viajar e refletir junto.
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