Que Graciliano Ramos é um dos maiores escritores da História do Brasil, não há dúvidas. No entanto, a maioria das pessoas o conhece apenas por textos-chave de sua bibliografia, como Vidas Secas, S. Bernardo ou Memórias do Cárcere. Assim, poucos sabem sobre o olhar político e histórico que Graciliano coloca sobre temas realmente brasileiros, históricos e políticos.
É o caso do livro Pequena História da República. A obra é um conjunto de pequenos textos, quase verbetes, em que Graciliano analisa aspectos centrais da história do País. Vai desde o fim da escravidão, passando pela Proclamação da República e chegando até a época imediatamente anterior à Getúlio Vargas, em que a República do Café com Leite impera no governo central.
São textos que já analisamos por aqui, já que Pequena História da República havia sido publicado recentemente pelo Grupo Editorial Record dentro da excelente coletânea Alexandre e Outros Heróis. No entanto, assim como falamos na época em que este outro livro foi publicado, a análise política e histórica de Graciliano não encaixou com o restante dos textos. Ficou avulso.
Por isso é tão interessante a publicação de Pequena História da República de maneira independente, com textos ganhando vida própria, como merecem. Apesar da pequenez das observações e das análises políticas e históricas, há uma acidez por trás da escrita de Graciliano que eleva a qualidade e o tom da narrativa, tornando-a ainda mais forte e atrativa.
Obviamente, por ser de outros tempos, algumas observações e análises de Graciliano envelheceram mal. Mas isso, de alguma forma, não deixa de ser um registro histórico de como a sociedade evolui, muda, se transforma. Graciliano se coloca como agente observador, mas também como observado por nós, décadas depois, de um Brasil que foi para nunca mais.
Enfim. Pequena História da República é um livrinho poderoso, repleto de bons momentos, que ajuda o leitor a embarcar em uma jornada inesperada e inusitada sobre a História do Brasil. É um livro que chama o leitor para dialogar junto, quase que em uma dança, para pensar e entender como é e como foi o Brasil. Necessário, ainda mais em tempos tão tristes e obscuros.
Amo Graciliano!!