Antes da resenha em si, vou contar uma breve história pessoal. Trabalhei durante alguns anos no Estadão e, durante o período que estive lá, encontrei com Gus Lanzetta algumas dezenas de vezes no elevador. Dávamos oi rapidamente e bola pra frente. No entanto, confesso que sempre tive vontade de parabenizá-lo pelo bom trabalho em podcasts e, também, conversar com ele.
Afinal, na época, os podcasts estavam em alta. Eram febre e começavam a contaminar redações de jornais -- Lanzetta, aliás, ia até o Bairro do Limão para, justamente, fazer a gravação de um podcast. Queria entender melhor. Como começar um podcast? Como transmitir? Como achar um público ideal? Nunca falei com Gus. Mas agora temos essas respostas no livro Ouvindo Vozes.
A obra, publicada pela Planeta de Livros, deixa qualquer sina de guia para trás e abraça a conversa, como deveria ser. Ao longo de rápidas 156 páginas, Gus Lanzetta fala um pouco mais sobre sua experiência, conta detalhes técnicos do que é um podcast e, acima de tudo, dá dicas úteis (ainda que algumas nem tanto) sobre os desafios de quem quer criar o seu programa.
Para isso, a forma que Lanzetta nos conduz é totalmente diferente do esperado. Ele intercala textos direto ao ponto com transcrições de entrevista e alguns sumários -- o que é um podcast? Como se planejar? Quem é seu público? Qual nome dar ao podcast? São várias questões levantadas de maneira natural, conforme a narrativa flui, e com respostas bem simplificadas.
O melhor, porém, está na forma que Lanzetta se comunica. A partir dessa estrutura diferenciada, a narrativa flui de uma maneira que Ouvindo Vozes, quase sem querer, parece um longo bate-papo do leitor com o autor. Tudo é muito bem encadeado, numa lógica de pensamentos natural. Não há a forçação de barra (sim, é assim que se escreve) de um guia, que só capitula temas.
A única coisa que senti realmente falta, ao virar a última página, é ter mais experiências reais relatadas ao longo do livro. Há histórias contadas ali, sim, mas acabam restritas principalmente às transcrições de bate-papo. Faltou aquela sensação de posicionamento direto, em que Gus simplesmente sentaria e falaria como deu errado tal coisa ou como se surpreendeu com outra.
Mas tudo bem. O fato é que Ouvindo Vozes cumpre seu objetivo. Dá para, tranquilamente, sair com pelo menos uma ideia bem formada de podcast na cabeça -- eu, confesso, fiquei com umas cinco ou seis ideias aqui para o Esquina enquanto desenvolvia a leitura. Sem dúvidas, um livro para ter na cabeceira de quem ainda quer surfar na onda desses programas modernos de rádio.
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