O mercado financeiro, em um primeiro momento, parece um universo sem graça. Pessoas olhando números, ganhando dinheiro, entrando num ciclo sem fim. No entanto, como já mostraram os filmes O Lobo de Wall Street, A Grande Aposta e Wall Street: Poder e Cobiça, há muito mais rolando nas regiões financeiras ao redor do mundo do que parece à primeira vista.
E o ótimo livro Os Jogadores, do jornalista Vinícius Pinheiro, traz esse olhar obscuro para a Faria Lima, o "coração financeiro" de São Paulo. Narrando a trajetória de Rodrigo Antunes, a obra acompanha a jornada desse rapaz em direção à muito dinheiro, intriga, anti-ética e o famoso vale-tudo. Algo que parece desproporcional de início, mas que não poderia ser mais real.
Afinal, Rodrigo começa o livro como um estudante de engenharia qualquer. Um rapaz burguês querendo ganhar dinheiro para viajar por um ano, sem preocupações, sem depender dos pais. No entanto, conforme o dinheiro vai se acumulando, os números vão se tornando vício. E Rodrigo, antes sem grandes pretensões, começa a esquecer de viver para ganhar dinheiro.
O mais legal disso, porém, não é a jornada de Rodrigo -- que não é algo novo para quem assistiu aos filmes que citei no começo. Não, nada disso. O mais legal aqui é que Vinícius Pinheiro traz provocações enquanto conta essa história. Primeiramente, coloca o leitor em condições de se questionar: será que iria seguir o caminho de viver a família e amigos ou de ganhar dinheiro?
É um questionamento que segue praticamente toda a jornada de Rodrigo e do próprio leitor ao longo das páginas. Em um segundo momento, Os Jogadores começa a questionar a legitimidade daqueles atos. Será que vale tudo mesmo para ganhar dinheiro? O mercado financeiro está sendo totalmente anti-ético ou, então, apenas se aproveitando de brechas legais quaisquer?
Além disso, Pinheiro acerta em cheio nas comparações e metáforas que constrói em cima da obra de João Gilberto. Quem poderia pensar em misturar bossa-nova e mercado financeiro? Uma pena que Vinícius derrape, justamente, na representação da jornalista que se envolve com Rodrigo. É estereotipada, é banal, é genérica e, infelizmente, só reproduz falsos preconceitos.
Mas, no fim das contas, Os Jogadores é um ótimo livro -- tanto para apreciadores do mercado das finanças, quanto para os que de nada entendem. O tom é leve, tranquilo e didático, sem ser simplório. É um livro para imaginar o mundo de possibilidades que residem aí fora e que, a todo o momento, está questionando: o que você faria para ter dinheiro? Muito dinheiro? E aí?
Legal achar esta resenha (a única que achei) deste livro que não conhecia e pelo qual fiquei um pouco intrigado ao ver numa livraria dia desses...
Vale a pena então?
Ah, só uma dica: tirar a crase de "em direção à muito dinheiro" no segundo parágrafo ;)
Fiquei com uma dúvida: eles romantizam o mercado financeiro? Até O Lobo de Wall Street sinto uma glamurização, uma aura ao redor. Não gosto disso. Faltam mais obras para provocar, instigar.