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Foto do escritorMatheus Mans

Resenha: 'O Livro Maldito' expõe suas falhas por conta de simplicidade


Por conta do tamanho diminuto, muitas pessoas podem acreditar que escrever contos e crônicas seja uma tarefa fácil. Nada disso. Expôr sua ideia, desenvolver a narrativa e fazer um fecho descente, em um curto espaço, é um desafio e tanto. Acredito, se não me falhe a memória, que Stephen King falou sobre isso em seu excelente Sobre Escrita, livro-base para escritores.


Por isso, não é realmente uma surpresa que O Livro Maldito não seja um grande livro. No entanto, desperta-me frustração e tristeza por seus vários problemas. Afinal, a ideia é muito bacana: dois escritores (David Herick e Van R. Souza) se uniram e resolveram escrever uma série de contos, bem curtos, que deem medo. São tipo creepypastas, sucesso de outros tempos.


É uma proposta bacana e evidenciada pelo visual arrojado da edição -- até mesmo no eBook, que é o caso acima, as boas ilustrações ajudam a dar o tom pretendido pela Editora Minotauro, da Planeta de Livros. E o começo desta obra, que se propõe a ser uma coletânea de 70 historietas de horror, vai bem. Boas reviravoltas, histórias divertidas, clima assustador no ar.


No entanto, a dupla de autores opta pela simplicidade ao escrever suas histórias e, com isso, acabam expondo seu principal defeito: a fórmula. Van e David se valem de uma mesma estrutura para, basicamente, todos os 70 contos. Geralmente, apresentam o cenário e, lá pro último parágrafo, invertem a perspectiva do leitor e, assim, tentam nos surpreender.


Isso funciona no começo, com textos como A Menina que Adoro, A Última Vítima e Maus-Tratos. No entanto, as coisas se tornam tão repetitivas que O Livro Maldito se torna uma das obras mais previsíveis do gênero que já li. Lá pelo vigésimo conto, foi impossível deter a vontade de tentar adivinhar o que aconteceria na pequena história no final. E sem me gabar: acertei quase tudo.


Nem mesmo a diversidade de temas do livro salva a obra. Histórias sobre relacionamentos (Ele Aceita, Conversando com Deus, O Garoto Certo), psicopatas (Sorriso, Anjo da Morte), assombrações (Metade de tudo... ou nada!, Olhe pra Mim) ou até alienígenas (Sem Motivo) acabam recaindo na mesma e velha fórmula. Parece uma produção industrial. Fica chato.


Além disso, uma coisa em particular me incomodou: a semelhança de algumas histórias com contos de Stephen King. Fã Número Um é uma espécie de Misery, Aceita uma Fatia? lembra A Maldição do Cigano, além de outras pequenas semelhanças em outras histórias. Não são cópias, obviamente. Mas teria sido mais interessante se tivessem referenciado antes de cada capítulo.


Assim, é isso: um filme com boas intenções, bom projeto gráfico e com algumas histórias interessantes -- gostei de 7 das 70. Mas que, no geral, peca pela simplicidade exagerada e uma fórmula batida. Talvez leitores "menos treinados" no gênero do horror consigam se divertir mais ou, então, aqueles que fizerem a leitura em gotas, com um conto por dia ou coisa que valha.


Mas aqueles que esperam uma grande coletânea, melhor desistir. Afinal, aqui, há apenas uma mesma fórmula, uma mesma estrutura que, no final das contas, não consegue nem assustar.

 
2 comentários

2 comentários


carlos-emmanuel-porto
08 de out. de 2020

Cara, caí na bobagem de comprar esse livro, que furada, nada salva...

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isadora.lyzskin
09 de jul. de 2020

É exatamente isso! Sou fã do canal David Herick. Acho que ele faz um trabalho do jeito, sabe? Coisa que ninguém mais faz. Fui ler o livro sedenta rs. E é isso. As cinco, seis primeiras histórias são bem legais. Depois elas se repetem, se repetem, se repetem. Até segui a orientação do comecinho do livro de ler aos poucos, um conto por dia. Mas não dá. Acho que cansa ainda mais.

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