Que surpresa doce foi a leitura do livro No Lugar do Meu Pai, Eu, de Felipe Belão. Lançado pela Editora InVerso, a obra é uma narrativa em primeira pessoa que chama a atenção logo de cara. Afinal, começa com o protagonista -- que também aparece em outros dois livros do autor -- em um dos momentos mais tristes de sua vida: a inesperada e impactante morte de seu avô.
A partir daí, numa leitura rápida, mas profunda, o leitor é convidado a entrar numa espiral de acontecimentos, sensações, emoções e transformações. Afinal, o autor-protagonista não sai ileso de um acontecimento como esse. Mais: a partir da morte do avô, esse personagem ganha camadas, se transforma em outra pessoa, encontra novos caminhos. Vira um novo alguém.
Como é dito durante a narrativa, é difícil não se identificar com o que está sendo contado. Eu, como pessoa com vivências e experiências, ressignifiquei a morte do avô nas páginas para minha dolorosa experiência de morte da minha avó. Fiz paralelos, entendi a dor do personagem. O que ele viu se transformar, eu também vi. Dessa forma, nós dois avançamos e sentimos.
Assim, No Lugar do Meu Pai, Eu é daquelas obras que não te permitem ser passivo. Ainda que tenha uma queda de ritmo e de força considerável na segunda metade, quando o personagem parte para uma viagem sem muito a acrescentar, não há problemas no significado na história. Tampouco no que ela representa quando viramos a última página e encaramos a capa no vazio.
O livro, que dá vontade de reler pelas sensações que causa logo quando terminamos a jornada por suas páginas, é uma experiência. É uma sensação. É daquelas leituras que te fazem viajar não só na história proposta por Felipe Belão, como também em suas próprias histórias. É um sentimento, infelizmente, raro de encontrar na literatura. É preciso ir longe para ver algo assim.
Enfim: No Lugar do Meu Pai, Eu é um delicado, doce e sensível retrato de uma pessoa em transformação por conta do luto, das perdas e da formação que o precedeu. É um livro que vai além em suas propostas, que instiga, que provoca e que emociona. Não fica no raso, não se contenta com pouco. É daqueles que digo: leia e, com certeza, vai sair da leitura transformado.
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