Nara Leão foi um acontecimento na música popular brasileira. Filha de pais burgueses e desacreditada desde jovem, ela lutou contra um machismo enraizado na alta sociedade carioca. Foi taxada de tudo, classificada como se não fosse nada. Ainda assim, fez sua própria história. E são essas várias facetas que são contadas na excelente biografia Ninguém Pode com Nara Leão.
Com a tradicional prosa leve e divertida do jornalista Tom Cardoso, autor de O Cofre do Dr. Rui, a biografia voa ao longo de suas 182 páginas de narrativa. Sem nunca pesar demais nas descrições das histórias ou na ambientação daqueles tempos, Ninguém Pode com Nara Leão faz jus ao talento da biografada. Não pesa a voz, não exagera. É tudo suave, mas com firmeza.
Tom Cardoso, contando as idas e vindas de Nara Leão, vai construindo sua personalidade de maneira quase que automática. Não força essa constituição. Não se finge de psicólogo, como em muitas biografias por aí, tentando entender Nara Leão. Ele a retrata, ele até a venera em alguns momentos -- como é esperado de qualquer pessoas que já colocou um disco de Nara pra tocar.
Além disso, destaca-se o excelente trabalho de pesquisa. Sem ficar babando academicismo à toa, Tom Cardoso se vale de referências e uma boa bibliografia de base, mas não atola o texto de notas e afins. Dessa maneira, Ninguém Pode com Nara Leão lembra um pouco Elis Regina: Nada Será Como Antes, de Júlio Maria: uma obra definitiva sobre uma artista história da nossa MPB.
Para quem gosta de histórias de bastidores de discos, o livro também acerta em cheio. Afinal, a obra sabe transitar bem entre a vida pessoal e profissional de Nara -- trafegando em assuntos dos mais diversos, como política, romances, amizades e, é claro, os vários discos de Nara Leão. Sabemos mais sobre os bastidores deliciosos de gravações, deixando o livro mais saboroso.
Enfim, Ninguém Pode com Nara Leão é daquelas obras obrigatórias não só para fãs de Nara Leão, como também daqueles que gostam de boas biografias e, também, de histórias sobre a conturbada jornada da música popular brasileira. Nara foi embora cedo. Fora do combinado, como diria Rolando Boldrin. Mas livros como esse, felizmente, ajudam a eternizar sua figura.