Existem algumas biografias que vão além da simples história de uma pessoa. Na literatura brasileira, Olga, de Fernando Morais, é um daqueles livros que falam mais sobre o Holocausto e o governo de Vargas do que muitos livros de História por aí. A excelente biografia de Zé do Caixão é uma aula sobre cinema brasileiro de vanguarda. E Hitler, de Ian Kershaw, se vale da figura histórica do líder nazista para situar o leitor em um momento da História ímpar.
Agora, mais uma biografia entra nessa lista de obras essenciais para se ter na estante. É Napoleão: O Homem por Trás do Mito, de Adam Zamoyski. Publicada no Brasil pela Crítica, da Editora Planeta, esta biografia dá gosto de ler. Primeiramente, pelo acabamento absolutamente completo do livro -- a capa dura, a excelente gramatura do papel e pequenos detalhes, como o tamanho bom da letra e a impressão de qualidade de mapas importantes para compreensão.
A experiência de manejar o livro, assim, é complementar à leitura. O meio também é a mensagem. No entanto, obviamente, Napoleão vai além da beleza da obra. Zamoyski, aqui, é o responsável por criar o relato absoluto e conclusivo do líder francês. O autor, que é historiador e tem outros livros de peso no currículo, se vale de uma ampla bibliografia para cercar todas as possibilidades e detalhes da vida de Napoleão. Com a leitura desta obra, mergulhamos fundo.
Afinal, o autor não recai em chavões de algumas biografias que lemos por aí, tampouco sai por caminhos fáceis. A obra, que é um calhamaço de quase 800 páginas (incluindo a bibliografia), não deixa pontas soltas. Com uma escrita leve e fácil de acompanhar, apesar de precisa, Zamoyski vai traçando esse relato cheio de particularidades. Destaque para as descrições de cenas de guerra, principalmente para o histórico momento da batalha de Waterloo.
A personalidade de Napoleão, na descrição do autor, também não segue por um caminho fácil. Munido de documentos, relatos de diálogos e outras coisas do tipo, o autor constrói um personagem realmente profundo, complexo e com o devido peso histórico que carrega. Não há facilitações na narrativa de Zamoyski, que se aprofunda o máximo que consegue ao compartilhar com o leitor como era Napoleão, desde conversas informais até mesmo na guerra.
Esta, obviamente, não é uma leitura fácil. Levei três semanas nela, com afinco redobrado e sem muitas distrações. Recomendo que seja assim. Se quiser mergulhar na leitura profunda, literária e precisa da biografia Napoleão: O Homem por Trás do Mito, se dedique. Fazendo isso, asseguro que você terá uma nova visão sobre esse líder histórico -- tão conhecido por coisas banais, como a pose que fazia ou a suposta baixa estatura, que é comentada no livro, vale ressaltar.
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