Que boa viagem é o quadrinho Os Faroleiros e Outros Contos de Monteiro Lobato, publicado pela Editora do Brasil. Aqui, o ilustrador Laudo Ferreira faz uma parceria póstuma com o escritor de Taubaté para adaptar quatro contos de Lobato: Os Faroleiros, Pedro Pichorra, O Luzeiro Agrícola e Era no Paraíso. Todos eles mantendo grande parte do texto original, mas em quadrinhos.
Com isso, há um misto interessante de percepções e sensações quando o leitor entra em contato com as histórias. Por um lado, há a rigidez narrativa de Lobato, como é tradicional em seus contos -- e bem diferentes das histórias do Sítio. Por outro, há a fluidez e a imaginação divertida dos traços de Ferreira, que ajudam a dar profundidade no que está sendo contado.
Como resultado, o leitor acaba entrando em contato com um livro de camadas. Em Os Faroleiros, a potência e a tragédia da história ganham contornos ainda mais soturnos. Lembra o próprio O Farol, filme recente que fez muito barulho. O Luzeiro Agrícola faz o leitor voltar à fantasia do Sítio. Era no Paraíso, o mais diferente de todos, nos faz olhar para nosso umbigo. Pra sociedade.
Dessa forma, Os Faroleiros e Outros Contos de Monteiro Lobato acaba sendo um interessante porta de transição. Do mundo infantil do autor para histórias mais adultas, com passagens violentas e um estilo de escrita mais duro, refinado, difícil de mergulhar. Afinal, ao lado das ilustrações de Ferreira, a experiência acaba ficando complementar e mais fácil de desbravar.
Enfim. Os Faroleiros e Outros Contos de Monteiro Lobato é um quadrinho essencial para quem quer ir além na obra de Lobato, entender seu universo literário além de Narizinho e Emília e, principalmente, quiser encontrar novas formas de interpretação da obra. Sem dúvidas, deve agradar todos que gostam da boa literatura brasileira, independente do tom ou do formato.
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