Confesso que nunca tinha lido nada de José Lins do Rego. Apenas entrei em contato com algumas histórias sobre ele na época do Ensino Médio. Agora, por meio da parceria do Esquina com a Global, li pela primeira vez a obra Menino de Engenho. Primeira publicação de José Lins, o livro é daquelas publicações que você não consegue esquecer dada sua força e naturalidade.
Afinal, os acertos começam na premissa. Menino de Engenho é forte já nas primeiras páginas: O menino Carlinhos, protagonista, ouve assustado um estrondo. Não entende. No dia seguinte, descobre que o pai matou a esposa -- logo, mãe do garoto -- com um tiro. Não teve chance de defesa. Ela é enterrada e o pai é preso. Com isso, o destino do menino cai na mão de familiares.
Buscando um futuro, ele acaba indo morar na casa do avô, onde também moram as tias, o tio, os primos e uma infinidade de parentes distantes e funcionários. É um engenho de cana de açúcar.
A partir daí, o menino do engenho começa a viver uma vida cheia de altos e baixos, emoções e razões, alegrias e tristezas. Afinal, a memória da morte da mãe pelas mãos do pai nunca é esquecida. Resulta em momentos de profunda tristeza e solidão, brilhantemente retratadas por Lins do Rego em cenas tocantes, delicadas, poderosas. Você sente as emoções do rapaz.
Num estilo que por vezes lembra Graciliano Ramos, em outras Machado, o autor mistura a jornada de Carlinhos com histórias da região. Tudo numa intercalação de acontecimentos que, de alguma maneira, tão continuidade ao envelhecimento do menino. É a enchente do rio Paraíba, a descoberta da sexualidade, a partida da tia, a relação com os primos, a vida bucólica...
No final, você sente a vida de Carlinhos passando pelas páginas e pelos seus olhos. A mistura de sentimentos e sensações, tão bem dosada por Lins do Rego, explode no final. É, afinal, um livro sobre crescimento. Não importa se cresceu no sertão, na cidade grande, no século passado ou está crescendo hoje. É uma história universal. E é muito difícil não se conectar com ela. Livraço.
Gosto muito do LINS DO REGO. Essa frase: "O pior não é morrer de fome num deserto, é não ter o que comer na Terra Prometida". Abç!