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Foto do escritorMatheus Mans

Resenha: Josh Malerman decepciona de novo em 'Inspeção'


Josh Malerman estourou na literatura logo no seu primeiro livro, o tenso e interessante Caixa de Pássaros. Não é à toa que a história acabou evoluindo e ganhou uma adaptação badalada na Netflix, com Sandra Bullock como protagonista. Depois, porém, Malerman não repetiu a originalidade de seu primeiro livro. Piano Vermelho é bizarramente tosco, Uma Casa no Fundo do Lago morre na praia e, agora, Inspeção se mostra bobo, genérico e extremamente esquecível. Não lembra o Malerman de antes.

A trama acompanha um grupo de jovens que vivem numa torre, isolada do resto da sociedade, e com nomes de letras do alfabeto. É uma espécie de caverna de Platão moderna. No entanto, conforme crescem, alguns desses pré-adolescentes começam a questionar o sistema que persiste ao seu redor e, principalmente, a compreender que há um sexo oposto -- afinal, meninos e meninas vivem separados e sem saber da existência um do outro. É o começo da derrocada de um sistema perverso e complexo.

Só pela sinopse já é perceptível como Inspeção não é nada original. A trama de Malerman parece uma mistura bem genérica de Maze Runner, Silo, Divergente e até O Doador de Memórias. É um tipo de história, com um forte pé no mundo juvenil, que já rendeu o que tinha pra render. Escritor algum conseguiria trazer elementos que as diferencia. Nem mesmo Malerman, com suas esquisitices e tramas sensoriais.

Além disso, se não bastasse a trama pouco criativa, o livro é chato. Muito chato. Malerman, apesar da trama juvenil e moderninha, emprega um tipo de escrita lento, quase morto. É como se algum falso escritor erudito se encontrasse com Maze Runner. Tem como dar certo? Pode ser até que, algum dia, alguém acerte -- José Saramago, afinal, surpreendeu o mundo com a distopia Ensaio Sobre a Cegueira, por exemplo, num momento em que o gênero estava saturado. Mas Malerman, é claro, não é Saramago.

Os personagens também são óbvios. Há um ou outro momento de interesse, como a rebeldia percebida em alguns núcleos, mas nada que instigue, surpreenda, choque.

Ao final, Inspeção não é nem sombra do que Malerman apresentou em Caixa de Pássaros. A sensibilidade, os bons personagens, a trama original, as reviravoltas instigantes, os momentos de tirar o fôlego. Nada disso sobrou no novo livro do escritor e músico americano. É triste, aliás, constatar como Malerman é, de fato, autor de um livro só. E talvez agora, numa segunda visita ao livro best-seller, nem isso tenha sobrado.

 

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