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  • Foto do escritorMatheus Mans

Resenha: 'Faca', de Salman Rushdie, faz refletir sobre atentado



Peguei com curiosidade um exemplar de Faca, livro de Salman Rushdie que, talvez, tenha se tornado seu segundo título mais atrativo para o público que está começando a mergulhar em seu universo -- atrás apenas de Versos Satânicos, é claro. É o livro, como já diz o subtítulo ("Reflexões sobre um atentado"), que fala sobre a tentativa de um terrorista em matar Rushdie.


Curtinho, com apenas 232 páginas, o livro é estruturado em quatro momentos: o momento do atentado, o logo após o atentado, a "relação" com o terrorista e, enfim, as perspectivas de futuro e como o atentado mudou a forma que Rushdie, hoje com 76 anos, enxerga o mundo lá fora.


É inegável que as duas primeiras partes (o atentado e o logo após) são o destaque da produção. É quando entendemos mais a emoção do escritor naquele momento de desespero, como ele entendeu o que estava acontecendo e, principalmente, suas emoções quando as moiras estavam prestes a cortar o fio da vida. É um tornado de emoções e sentimentos por aqui.



Só que aí vem o grande ponto de interrogação de Faca: e aí? O que tem além desse retrato e das reflexões do momento? Afinal, se fosse apenas para relatar o momento e contar um pouco sobre como estava sua vida antes, era melhor escrever uma crônica para a New Yorker ou coisa do tipo. É aí que surgem as outras duas partes, que ficam abaixo em qualidade de narrativa.


A terceira parte -- a mais estranha e desconjuntada -- é um exercício criativa de Salman (ou seria uma terapia?) em que ele imagina como seria o confronto com o terrorista. Ele cria um diálogo fictício, inspirado nas respostas que o quase assassino deu para imprensa, e fala muito sobre a relação de Salman com o atentado, questões da vida, morte e, principalmente, perdão.


É interessante? É. Mas a forma que a narrativa aparece no relato acaba quebrando parte do encadeamento de reflexão, fragilizando a relação do leitor com o que está nas páginas. Fica a sensação de que as coisas não saem do lugar, estando ali só para aumentar as páginas.


No final, quando surge a reflexão de Salman sobre o ambiente ao seu redor e o futuro após o ataque, o livro volta a recuperar parte do fôlego, mas nunca chega ao nível de antes. Talvez seja um problema seminal na obra, que desperta a atenção do público quase única e exclusivamente pela fofoca do que aconteceu no atentado -- não adianta mentir, é o que todos querem saber.


Como manter a atenção? Salman tenta encontrar caminhos, mas sem nada certo ou concreto. Passeio pelo vazio. Foge do relato, busca o novo. Nesses desencontros, temos um livro morno e que serve mais para apaziguar a curiosidade do que trazer algo realmente profundo e literário.

 

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