Vamos começar esta resenha de um jeito diferente, com um exercício de imaginação. Você, caro leitor, é um piloto de avião. Um ou uma comandante. Saiu de casa cedo, se despediu da família, checou todas as tecnicidades do avião e decolou. Viagem curta, coisa de duas horas. No entanto, no meio do caminho, você recebe uma mensagem com intenções bem claras: sua família está sequestrada e só você pode salvá-la. Como? Derrubando o avião e matando todos na aeronave.
O que você faria? É justamente esse dilema, tão bem pensado, que rege a história do sensacional Em Queda. Publicada no Brasil pela Editora Planeta, a obra acompanha o piloto de avião Bill que, certo dia, se vê nessa emboscada. No avião, precisa decidir se salva sua família ou sua vida e a dos passageiros. Na casa dele, o terrorista Sam ameaça a esposa, o filho e a filha recém-nascida. É um dilema e tanto e que aguça a curiosidade do leitor já desde o comecinho.
Dessa forma, pode-se dizer que as primeiras 100 páginas (de um total de cerca de 270) passam voando. Você quer saber mais e mais e mais. Como Bill, que é um personagem muito bem desenvolvido e que cria laços rápidos com o leitor, vai escapar dessa? Vai salvar a família, o avião, os dois, nenhum? Além disso, nessas primeiras 100 páginas, conhecemos mais Jo, uma aeromoça dedicada, o agente Theo e, até mesmo, a família desesperada desse piloto de avião.
E o mais interessante é como até mesmo esses personagens secundários também conseguem criar laços com os leitores. Nos importamos com Jo tentando salvar os passageiros, com Theo se esforçando para ser mais do que um agente burocrático. Com isso, o livro ganha camadas e funciona mesmo nos capítulos que não são focados totalmente em Bill. Algo importante em livros policiais (e que Harlan Coben, como exemplo, faz tão bem) e que era essencial por aqui.
Depois disso, a autora T. J. Newman -- que, veja só, era aeromoça e escreveu o livro durante voos noturnos -- dá uma desacelerada na história e começa a usar narrativa que já conhecemos. O livro não perde totalmente sua identidade, dado o ambiente em que ele se passa majoritariamente, mas não consegue manter o vigor. O foco na investigação, alguns flashbacks que não encaixam na história, personagens que surgem e desaparecem. Faltou uma edição ali.
Mas, ao final, Newman recupera essa vitalidade com um encerramento de segurar o fôlego. E, assim, sabemos que Em Queda está longe de ser um livro perfeito. Tem seus tropeços, seus problemas, suas falhas -- algumas delas, aliás, bem perceptíveis. Mas é muito bom de ler, com a empolgação com essa história se mantendo sempre em alta. Em Queda é um suspense certeiro que vai conquistar a empolgação de leitor por aí, ansiosos por suspenses que vão além do óbvio.
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