Já é um clichê falar que grandes livros não se medem pelo número de páginas. Um novo lançamento do Grupo Editorial Record, porém, exige que essa máxima tão gasta e tão usada seja novamente trazida à tona. É Em nome de quem?, livro-reportagem de Andrea Dip, que investiga os meandros, as particularidades e a formação da chamada bancada evangélica, que dita pautas conservadoras dentro da Câmara dos Deputados.
O mergulho de Andrea no tema não é de hoje. A jornalista cobriu a temática há cerca de três anos, quando produziu uma reportagem para a Agência Pública sobre a presença dos pastores no Congresso. A partir daí, porém, ela expandiu a investigação e falou com deputados, senadores, pastores, lideranças religiosas, estudiosos, fiéis. Tudo para tentar entender como funciona essa união entre política e religião, temas tão controversos e opostos.
O resultado, o livro Em Nome de Quem?, deixa claro a quantidade de trabalho que Dip teve. Mesmo que todo seu conteúdo esteja resumido em 160 páginas, sua força e seu cuidado com os detalhes saltam do texto e engrandecem na mente de quem lê. É forte a constatação feita por Dip, que deixa claro como os dois assuntos estão se misturando com o passar do tempo -- ao mesmo passo que a tal bancada só cresce em tamanho e barulho.
Afinal, além de dados concretos e constatações feitas em cima de projetos encaminhados por deputados e senadores da bancada, Andrea consegue boas histórias e entrevistados, permitindo que a reportagem saia apenas da observação e caia também nos fortes e contundentes argumentos de especialistas e estudiosos da temática -- incluindo a de um pastor, que mantém um senso crítico muito interessante.
Dip, que acertadamente não esconde sua opinião sobre a presença da bancada evangélica em momento algum, também faz ótimos recortes em cima da fala de alguns dos políticos entrevistados. É algo natural dentro da narrativa composta pela jornalista e que ajuda na construção de uma opinião concreta por parte dos leitores. É um livro, afinal, que emite opiniões a todo o momento, mas que cria um diálogo honesto com seu público.
Além disso, a escrita natural da repórter permite também que temas bem mais densos sejam incluídos no meio das páginas e, mesmo assim, sejam digeridos de maneira tranquila e sequencial -- como é o caso das chamadas teologias da prosperidade e do domínio, além do avanço da presença evangélica nas periferias. Este último ponto, aliás, cria um paralelo com a política interessantíssimo e que, apesar de óbvio, é pouco claro no dia a dia.
Em Nome de Quem?, então, é um livraço. Urgente, necessário, forte, contundente. É um livro que vai incomodar e fazer refletir em iguais medidas, mostrando que é uma investigação importante e que precisa ser feita. Indicado para quem gosta de política, necessário para quem quer se informar. Leia Em Nome de Quem?. Você não vai se arrepender.
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