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Foto do escritorMatheus Mans

Resenha: Em 'Migração e Intolerância', Umberto Eco fala de dores sociais


É uma experiência transcendental ler Umberto Eco. Afinal, o autor e filósofo italiano, morto em 2016, era tão conectado com o mundo ao seu redor que conseguia compreender os movimentos e sentimentos universais com uma antecedência impressionante. Entendia acontecimentos e os aplicava em escala global, repetitiva e atemporal. Leu e compreendeu o mundo como poucos.


Em Migração e Tolerância, livro que é publicado agora no Brasil pelo Grupo Editorial Record, esta habilidade de Eco é reafirmada. Assim como na excelente obra O Fascismo Eterno, já elogiado aqui no Esquina, o italiano se debruça sobre um tema de sua época -- aqui, no caso, por volta de 1980 e 1990 -- e o destrincha de maneira didática, com calma, e também aplicável globalmente.


Como o próprio título diz, o debate da vez é sobre a questão dos migrantes (que ele genialmente compara com os imigrantes, no ápice do livro) e sobre o preconceito que cerca essas pessoas que chegam em países estranhos. Eco compreende esses movimentos, enxerga uma massa de pessoas "invadindo" a Europa num futuro breve e como o preconceito precisa ser tratado na raiz.

Assim, mesmo que escritos há quase 40 anos, os textos de Migração e Tolerância refletem uma sociedade extremamente atual. Sem saber sobre o que viria a acontecer no Mundo, Eco disserta sobre os atuais refugiados, sobre medidas extremas adotadas por alguns. Analisa, reflete. Mesmo que tenha menos de 100 páginas, o livro transborda em importância e potência analítica.


O melhor, porém, é que Eco vai além de sua leitura social. O italiano também propõe soluções. Fala sobre o problema da xenofobia -- sem nunca usar esse termo, vale ressaltar -- e mostra como as pessoas, os governos e a sociedade podem mudar esse tipo de comportamento. Mostra que a intolerância nasce e se desenvolve naturalmente. Precisa, apenas, ser aparada e domada.


Ao final da leitura, é impossível não se sentir transformado. Ter aquela sensação de que aprendeu algo extremamente valioso. Ler Umberto Eco, principalmente em suas obras de não-ficção, é ler e compreender o mundo. Entender os próximos. E, principalmente, refletir sobre comportamentos, sociedade. Futuro e presente. Ler Eco é um presente. E uma obrigação.

 
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