Já falamos diversas vezes aqui no Esquina sobre a excelência da escrita de Graciliano Ramos. Seja no cultuado Vidas Secas, no poderoso Angústia ou até em breves histórias em Alexandre e Outros Heróis, o autor alagoano sempre traz uma narrativa envolvente, ainda que seca e direto ao ponto, que consegue traduzir com intensidade o cotidiano de um nordeste que ainda existe.
Por isso, é tão interessante mergulhar na leitura de Infância. Reeditado e lançado pelo Grupo Editorial Record, a obra é uma coletânea de contos. E, assim como Alexandre e Outros Heróis, há uma linha narrativa muito clara. Neste caso, as memórias do autor sobre sua própria infância. São histórias dispersas, seguindo a mente do autor, que nos convida a adentrar em sua vida.
São lembranças dos avós (Memórias, Meu Avô), de causos e figuras marcantes da região (José da Luz, Seu Ramiro) e até sensações e memórias mais abstratas (Nuvens, Cegueira). É um mergulho multifacetado e complexo dentro da história do próprio autor, que vai se desnudando a cada conto, página, história. É um mergulho forte e interessante para quem já conhece o autor.
Afinal, por meio de suas palavras, é possível compreender melhor o caminho do autor até suas obras mais celebradas. Em breves trechos, é fácil de enxergar a fazenda de S. Bernardo ou, ainda, os movimentos migratórios tão brilhantemente explorados em Vidas Secas, por exemplo. Assim, Infância deve fazer mais sentido para aqueles que já conhecem algo de Graciliano.
No entanto, há de se destacar um ponto negativo. Ramos, obviamente, manteve seu estilo aqui: linguagem seca, sem firulas, e muito cadenciada. Enquanto em romances é fácil compreender e entender o estilo, já que o leitor "se acostuma". Aqui, com os contos, fica mais difícil esse mergulho. Afinal, cada história é um pequeno desafio. A leitura, assim, fica bem menos fluída.
Ainda assim, Infância é um livro essencial para aqueles que querem entender, compreender e interpretar melhor a obra e vida de Graciliano Ramos. É um fechamento ideal para quem já viveu e leu S. Bernardo, Vidas Secas, Caetés. Afinal, mais do que pequenas histórias, lemos e entendemos quem é o autor. É um fechamento perfeito para entrar de vez nessa boa literatura.
Cresci lendo Graciliano. ""São Bernardo"", ""Vidas Secas"". Em uma época em que escola exigia, não pedia. Nunca li ""Infância"". Boa recomendação!!