Confesso que não esperava encontrar o que encontrei com o livro Cartas de Isabella. Comecei a lê-lo numa noite qualquer, sem qualquer pretensão. Achei que seria um livro de troca de cartas de amor banais ou coisa do tipo — como sempre, prefiro não ler a sinopse das obras que recebo por meio de parceria. Aí eis que encontro um profundo processo de luto da autora dessa obra.
Isabella Fernandez Ibargoyen era casada com Giovane Klein, um dos jornalistas que morreu no trágico acidente aéreo do Chapecoense. Isabella, que estava iniciando o processo de construção de uma vida junto de Giovane, o perdeu da noite pro dia. Do nada. Assim, em Cartas de Isabella, vemos a autora, que também é jornalista, buscando elaborar a morte do marido via cartas.
Isso mesmo. A autora, após a morte de Giovane, escrevia cartas não só para lidar com sua própria tristeza e solidão, como também para tentar encontrar uma forma de se "comunicar" com o marido. Os leitores, enquanto isso, são convidados a entrar na intimidade de Isabella para entender sua dor, seu sofrimento, o doloroso senso de luto. Não é fácil adentrar nessa escrita.
Afinal, Isabella se expõe, se mostra. É uma forma brilhante que encontrou de enfrentar a situação. É bonito ver como ela encontra conforto nas palavras e como a escrita, tão forte, real e potente, se traduz em sentimentos emanados da autora para seu marido. O leitor se sente intruso em alguns momentos, mas sem nunca se sentir totalmente dissonante desse processo.
Há alguns exageros no modo de escrita, que incomodam por estar em um livro — o excesso de pontos de exclamação, as reticências e coisas do tipo. Perde um pouco do impacto literário e narrativo da coisa. Mas, de alguma forma, isso só realça ainda mais a força emocional e natural dessa obra, que emana verdade. Difícil não embarcar na leitura, mesmo com esses pontos.
Cartas de Isabella é o livro mais real que li em 2020. Me deixou abalado no começo, depois me fez quase derramar algumas lágrimas. Até me fez sorrir a partir de memórias, cacos reunidos e coisas do tipo. É linda a homenagem que Isabella fez ao marido, que partiu de maneira tão trágica. Um livro forte e emocional, mas que nunca se perde na tarefa de homenagear Giovane.
Curiosa demais pra leeeer!! Dezzzzz!