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Foto do escritorMatheus Mans

Resenha: 'Brancura' mergulha na consciência da morte



Peguei Brancura da minha estante com estranhamento. Um livro extremamente curto -- daria para se encaixar como conto, inclusive. No entanto, estava lá na capa que era um dos principais livros de Jon Fosse, o autor laureado com o Nobel de literatura em 2023. Como? O que tem nessas poucas páginas que coloque esse livro como uma das principais obras do norueguês?


O fato é que Brancura é um livro para sentir, não para apenas ler e interpretar. Em poucas páginas, acompanhamos um homem que começa a vagar sem rumo até que termina em uma floresta negra. Quase que a totalidade da obra se passa com esse homem perdido nessa floresta, tendo diferentes visões -- uma delas, claro, é essa criatura alva e repleta de brilho.


São poucas páginas desse livro que pode ser lido em uma hora. Não tem complexidade alguma na superfície e, assim, fica realmente a sensação de que é apenas um conto qualquer. Mas não é nada disso. Fosse fez algo dificílimo aqui: mostrou a consciência dolorosa da morte.



Brancura, afinal, não é só a história de alguém que quer se afastar da sociedade. É alguém que está em transição da vida para a morte. Não fica claro, em momento algum, se esse protagonista misterioso morreu enquanto estava perdido no tal floresta -- talvez por hipotermia -- ou se na verdade sua consciência o levou para essa floresta para seus últimos respiros.


Vai da interpretação de cada um, que precisa compreender como esse fim da consciência se dá. Eu, porém, interpreto tudo como um processo da morte, da primeira página até a última. Brancura, afinal, não está interessado em realmente explicar quem é o personagem, mas sim o que está acontecendo com ele. Fosse tenta compreender o que nos acontece quando mortos.


Outro ponto positivo, além disso, é como o norueguês não quer definições religiosas, ainda que seu texto se aproxime um pouco do espiritismo. Sua busca é pela essência. Isso deixa o livro ainda mais grandiosos, fugindo de ideias e pensamentos pré-concebidos e que podem não ter um diálogo com as pessoas. Há uma busca pela sensação, que é alcançada. E desesperadora.


Brancura, enfim, é um livro que não precisava de mais páginas para contar tudo o que conta. Profundo e inesperado, é bastante certeiro ao trazer sensações desconcertantes para as páginas do livro, questionando o que é nossa consciência, o que somos e para onde vamos. Não há exatamente respostas, mas sim provocações que mexem com a gente. E isso é muito bom.


 

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