Marcelo Rubens Paiva é um gênio. Só Feliz Ano Velho já bastaria para comprovar tal afirmativa. Porém, ele ainda possui outras obras formidáveis. Malu de Bicicleta, Bala na Agulha, Blecaute. Este último é o meu preferido de Paiva. Uma história muito bem contada sobre algo que povoa o imaginário de muitas pessoas.
Três amigos, Rindu, Mário e Martina, vão fazer uma expedição nas cavernas do Vale do Ribeira. Ao saírem da caverna, notam algo diferente: todas as pessoas simplesmente ‘endureceram’. Não se mexem. Os únicos a salvo deste estranho fenômeno são os três jovens, que estavam abrigados na caverna.
O enredo já é envolvente. Porém, a escrita e a criatividade de Paiva deixam a história sensacional. É impossível não se envolver com os problemas dos três solitários. Para quem mora em São Paulo ou conhece a região, é ainda mais mágico e inebriante.
“Era estranho andar por São Paulo à noite, sem nenhum teatro ou cinema ou restaurante ou bar ou uma porra qualquer para ir. Era estranho não ver os milhares de carros levando casais a um programa misterioso, não ver uma garota expondo o corpo numa pista de dança qualquer.”
Imaginar pontos turísticos de São Paulo, como a Avenida Paulista ou o Museu do Ipiranga, que estão sempre abarrotados de pessoas, sem um único ser humano, deixa a história melhor ainda. Viajava frequentemente, imaginando tais situações. Além disso, o capítulo dedicado à Avenida Paulista, onde os três amigos fazem algo inusitado, é sensacional. Não consigo mais andar por lá sem pensar na cena.
Tal cenário já bastava para o livro ser, no mínimo, bom. Porém, Paiva surpreende. Os três personagens são de uma profundidade ímpar. Os problemas e embates internos avançam a cada página. Uma mistura muito bem feita de ciúme, traição, amor e paixão. É impossível não se envolver com os personagens e se preocupar com os problemas que virão a cada página virada, além de se espantar a cada atitude tomada por eles.
“Faça um pedido. Qualquer um. O que a madame quer explodir? É só acender o pavio e bum. Vamos, escolha, vai te fazer bem. Ela relutou no começo. Mas ficou pensando, pensando, até seus olhos adquirirem outro brilho. Abriu um largo sorriso e perguntou maliciosamente: – Posso destruir o que quiser? – Claro. É só escolher – Mário respondeu. Ela exagerou. Foi longe demais. – Quero derrubar a antena da Rede Globo na Avenida Paulista.”
Enfim, o livro é sensacional. Precisa ser lido por todos que reclamam do número excessivo de pessoas em São Paulo ou em qualquer outro lugar do Brasil. Com ele, vemos que os extremos são perigosos. Solidão pode não ser a saída. E com essa formidável obra, Marcelo Rubens Paiva entra na minha lista de autores favoritos. Quiçá até mesmo o meu favorito. É genial.
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