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Foto do escritorMatheus Mans

Resenha: 'Alexandre e Outros Heróis' exibe concisão de Graciliano Ramos


Quem começa a se aventurar na literatura de Graciliano Ramos geralmente encontra textos densos, repletos de um mergulho psicológico profundo, e com narrativas de fôlego. Por isso, é curioso se aventurar nas linhas do livro Alexandre e Outros Heróis, publicação póstuma do autor alagoano e que acaba de ganhar uma reedição pelo Grupo Editorial Record. Direto, reto, conciso.


Afinal, ao longo de suas 256 páginas, o livro traz historietas que variam em tom e intensidade. Em um primeiro momento, por exemplo, encontram-se pequenas narrativas de Alexandre, caboclo do interior nordestino que conta histórias absurdas de suas vidas para amigos, vizinhos, parentes. Tudo ali foi colhido por Graciliano nas conversas populares de Alagoas e região.


São coisas como o olho que ficou preso num galho, após o narrador-protagonista montar por engano numa onça; tatus que nascem da terra; ou um papagaio esquecido em um balaio.


É o ponto alto do livro. Com capítulos curtos, mas entreligados por conta de seus personagens, as histórias de Alexandre tão um gosto verdadeiro de Brasil na boca. O narrador-protagonista é cheio de exageros e mentiras, mas não podia ser mais real e brasileiro. É um folclore extremamente saboroso e divertido, que desperta os ânimos de quem navega pelas letras.


O autor alagoano convida o leitor a entrar num mundo mágico, quase ao estilo de Gabriel García Márquez, mas sem nunca exagerar nas tintas. Afinal, lembre-se: continua sendo Graciliano.

Depois, essa coletânea traz um texto infantil, mas que não poderia ser mais emocional. A Terra dos Meninos Pelados acompanha a jornada de um menino que se sente deslocado. Afinal, tem olhos de cores diferentes e é alvo de piadas frequentes de seus vizinhos, parentes e colegas da escola. Dessa forma, triste e isolado, o protagonista Raimundo acaba criando seu mundo.


Com o nome de Tatipirun, essa cidadezinha imaginária convida o protagonista -- e o leitor, por extensão óbvia -- a compreender melhor sobre os diferentes, sobre os iguais e sobre ambientes opressores e oprimidos. Graciliano conduz tudo com uma elegância inerente ao seu trabalho, mas que desperta uma delicadeza no trato que é raro de encontrar na literatura do autor.


Afinal, ele trata um tema complexo, cheio de meandros, com cuidado e a força necessária. O foco são as crianças. No entanto, A Terra dos Meninos Pelados pode tocar qualquer um.


Por fim, o mais descolado dentro dessa narrativa: as observações de Graciliano Ramos sobre os últimos anos da monarquia brasileira e, principalmente, sobre os primeiros anos da República. São observações espirituosas, que misturam informações reais com a ótica do autor, trazendo um sabor a mais para a História brasileira. Divertido ver como ele enxergou e viveu aquilo tudo.


No entanto, como ressaltando, se descola: apesar do humor nas entrelinhas, o tema é pesado demais e acaba puxando Alexandre e Outros Heróis para um lado mais obscuro e cansativo.


Dessa forma, esta coletânea de Graciliano Ramos termina com um tom um tanto quanto chato e cansativo -- apesar da vivacidade da escrita do autor continuar viva. Mas a força das historietas e mentiras de Alexandre e a inocência poderosa de A Terra dos Meninos Pelados fazem com que o livro se torne essencial. Pode ser, assim, uma boa porta de entrada à literatura do alagoano.

 
1 comentário

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1 Comment


renato.paulizinsky
Mar 18, 2020

Como já disse em uma outra crítica aqui do 'ESQUINA DA CULTURA', sou fascinado pelo trabalho de Graciliano. Li este livro há alguns bons anos, na minha época de faculdade. Confesso que esperava um pouco mais. Gostei dos textos sobre ALEXANDRE, mas não me cativou muito a dos meninos pelados e menos ainda os textículos sobre a República. Quem já leu Angústia, Vidas Secas, vai se decepcionar um pouco.

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