Não sou de me influenciar pelas capas de livros, mas é difícil não ficar atraído pela arte na capa de A Terceira Vida de Grande Copeland. Numa mistura de roxo com amarelo, a capa chama a atenção e já instiga a buscar detalhes sobre o livro. E que livraço! Escrito por Alice Walker, autora do aclamado A Cor Púrpura, o livro é uma das mais leituras mais fortes que fiz em 2020.
Afinal, veja só a história: o trabalhador rural Grange Copeland, oprimido pela estrutura racial do condado em que vive nos EUA, decide abandonar a família para ganhar a vida no Norte. No entanto, tempos depois, ele decide retornar à sua terra natal. Só que não é mais o mesmo Grange. Ele volta transformado após ter experiências transformadoras no Norte americano.
Dessa forma, ele decide nunca mais conviver com pessoas brancas. Grande, assim, refaz a sua vida, torna-se fazendeiro, mas precisa lidar com as consequências de suas novas decisões e, também, de escolhas do passado. É um livro, assim, que usa o personagem como ponto central de transformação, que vai muito além disso, analisando sociedade, microcosmos e famílias.
Alice Walker, assim como em A Cor Púrpura, se vale de uma narrativa dinâmica, poderosa, intensa. Ora causa asco e nojo no leitor, em outras encontramos a beleza das personagens e das passagens ali escritas. Tudo isso para falar sobre as injustiças e violências cometidas contra pessoas negras, algo que infelizmente se perpetua mesmo décadas depois de sua publicação.
A violência que sofre o protagonista de A Terceira Vida de Grande Copeland é muito similar com a que vemos acontecendo em lugares como Estados Unidos, Europa e até mesmo no Brasil. Alice Walker compreendeu tão bem a situação racial da América que, por meio de uma história ficcional, conseguiu traduzir sentimentos e problemas no núcleo de nossa sociedade racista.
O cenário externo muda. A casca se transforma. Mas o problema central continua. Por isso A Terceira Vida de Grande Copeland é tão potente, urgente, tão necessário. É um livro que merece ser lido, relido e ter uma intensa reflexão sobre sua história. A Cor Púrpura, sem dúvidas, é um grande livro. Mas, minha opinião: não chega nem perto de A Terceira Vida de Grande Copeland.
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