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Foto do escritorMatheus Mans

'Quis mostrar meu envelhecimento', diz Marco Nanini sobre 'Greta'


O ator Marco Nanini, apesar de ter uma longa carreira no teatro, no cinema e na TV, ficou marcado na memória afetiva dos brasileiros como o certinho Lineu, pai de família e funcionário público no seriado A Grande Família. Agora, no longa Greta, ele reverte todas essas lembranças com Pedro, um enfermeiro homossexual que vive um momento complicado com a iminente morte da melhor amiga e um relacionamento conturbado.

E para viver esse interessante e complexo protagonista, Nanini se entregou. Ao longo dos 97 minutos de duração de Greta, ele aparece com nu frontal e em cenas quase explícitas de sexo. Mas, principalmente, o ator se desnuda psicologicamente por meio do personagem, mostra as marcas da idade. "Comecei cedo na TV. Por isso, sempre quis mostrar meu envelhecimento para as pessoas", disse o Nanini, durante coletiva em SP.

Segundo ele, não há problema nas cenas de sexo ou de nudez -- se há motivo para tal. "As cenas de sexo têm profundidade de tristeza, com camadas", contextualizou o ator. E ele não se incomoda com a ruptura que teve com o personagem de Lineu? "Sempre procurei inovar. No cinema e no teatro, tive papéis mais ousados. Mas sempre fui o mocinho na TV e acabei me sentindo uma maçaneta. Lá, não entenderiam o nu frontal".

Política

Apesar de não ser um filme sobre política, Greta acaba sendo, quase que naturalmente, um filme político. Afinal, ao trazer temas como sexualidade na terceira idade, homossexualidade e minorias, há uma reflexão e uma provocação que são quase que inerentes ao atual processo político. "Trago personagens marginais, invisíveis no atual período, e mostro que eles existem", disse o diretor do longa-metragem, Armando Praça.

Além disso, o cineasta também ressaltou a atualização que fez no texto da peça que livremente inspirou Greta. “Greta Garbo, Quem Diria, Acabou no Irajá é uma comédia que já não cabe mais nos dias de hoje. Não me sinto confortável de ver pessoas rindo de um personagem marginalizado", disse o cineasta. "Adaptar isso, hoje em dia, não é gesto de compaixão. É um gesto de respeito, extremamente necessário pra evitar anacronismos".

Assim, para retirar qualquer camada desnecessária de comicidade, Praça colocou a história sob os olhos de Pedro -- essa personagem tão particular que sofre de amores por um criminoso num momento que teme a solidão com a morte de sua amiga. Fã de Greta Garbo, há uma naturalidade e um melodrama típico dos filmes da estrela sueca na forma como Praça filma, segura a câmera, mostra o sofrimento e as emoções na tela.

"Toda filmografia da Greta Garbo remete ao estilo naturalista. O personagem do Pedro, dessa maneira, via sua vida como se estivesse num filme da atriz", contextualiza o cineasta. E as cenas de sexo, a nudez? Afinal, além das sequências com Nanini, há outras bem mais explícitas. "Se a gente tivesse pudor na hora de gravar, o filme não teria a força que tem. Houve uma compreensão da importância desse momento".

 
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