O jornalista e escritor Fernando Morais brindou as pessoas, em 2011, com mais um excelente livro: Os Últimos Soldados da Guerra Fria, sobre uma briga de espiões entre Estados Unidos e Cuba já nos anos 1990. Na época em que escrevia o livro, o produtor Rodrigo Teixeira (A Vida Invisível) bancou a pesquisa. E, com isso, acabou ficando com os direitos para o cinema. E ele os aproveitou agora, com o ainda inédito Wasp Network.
Dirigido pelo francês Olivier Assayas (Acima das Nuvens, Vidas Duplas), o longa-metragem acompanha a vida desse grupo de espiões (Edgar Ramírez, Wagner Moura, Gael García Bernal) e de suas esposas, namoradas e filhos (Penélope Cruz, Ana de Armas, dentre outros). Este último ponto, para quem leu o livro de Morais, é uma surpresa. Já que nada disso estava nas excelentes páginas de sua extensa reportagem.
"Quando li o livro de Fernando Morais, achei muito forte. Mas fiquei interessado pelo lado humano. Ou seja: pelos casais, as famílias que são deixadas para trás. Acabei dando importância maior para as esposas", disse o cineasta, durante coletiva de imprensa em São Paulo. Ele é conhecido, aliás, por suas personagens femininas fortes, marcantes. E isso não é diferente aqui. Penélope Cruz, por exemplo, começa devagar, mas toma conta.
Mas, além dos dramas humanas, Assayas precisou lidar com uma tonelada de informações complicadas sobre relações internacionais, espionagem, política externa. É tanta coisa que o diretor decidiu rever a edição da produção após exibição no Festival de Veneza. "Simplificamos a parte política da narrativa. Ficou mais fácil de entender para quem não é familiarizado com o tema. E acrescentamos três minutos", explicou ele.
Política e polarização
Se tratando de Cuba, Estados Unidos e afins, é difícil não entrar num clima de polarização na discussão sobre o longa-metragem e, inclusive, sobre quem tinha razão. Clinton, FBI, Cuba, Fidel Castro? Quem estava certo, quem estava errado? O fato é que Assayas se vale de uma série de imagens documentais que, aos poucos, vai indicando um favorecimento para o lado da famosa ilha latino-americano. Mas ele admite isso?
"Não sou documentarista, mas tenho a responsabilidade de representar as coisas da maneira correta. Muitas vezes, uma pessoa vai se informar sobre esse fato apenas por meio do meu filme. Mas não sou castrista. É um governo totalitário e não sou a favor disso", disse o cineasta. Mas como explicar a fala de Castro, recuperada pelo cineasta, que mostra a visão dele sobre os EUA? "O fato é que Fidel tem um ponto. Mostrei isso".
Edgar Ramírez, um dos protagonistas de Wasp Network, é venezuelano e se tornou uma voz potente contra os governos à esquerda na América Latina. Por isso, logo após uma acertada pergunta do colaborador Amilton Pinheiro, do Esquina, ele correu para mostrar sua posição. "Em Wasp Network, não falamos o que achamos. Deixamos o espectador decidir". E o que ele acha? "No meu trabalho, não importa. Tenho minha posição".
(*) Filme visto durante cobertura especial na 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
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