Desde ontem, no meio cinéfilo, só se fala disso: o Brasil finalmente consolidou aquilo que era esperado e selecionou o filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, como seu representante para o Oscar de 2025. Após a escolha sacramentada, chega a hora de se questionar: será que o Brasil tem chance não só da indicação, mas levar a estatueta por Melhor Filme Internacional?
No atual momento, já dá pra cravar que o longa-metragem de Salles está praticamente com a indicação garantida. Ainda faltam filmes de outros países, mas Ainda Estou Aqui é um dos francos favoritos. Não só venceu prêmio de roteiro no Festival de Veneza, como foi descrito pelo The Hollywood Reporter como um dos grandes filmes do festival e como forte concorrente ao Oscar. Isso já coloca o longa-metragem bem à frente de outros filmes, gerando um burburinho.
Vale lembrar que além de Ainda Estou Aqui, outros dois filmes parecem ter o destino selado: é o caso de Emilia Pérez, representante da França que foi muito elogiado pela passagem em Cannes, e o alemão The Seed of the Sacred Fig, que era o favorito à Palma de Ouro até que Anora desbancou e levou o prêmio. Correndo por fora também estão os títulos Sujo, do México, que tem tido um bom desempenho na categoria, e o chileno En Lugar de La Outra, da Netflix.
Walter Salles é o nome que precisamos
Muita gente torce o nariz quando falamos da importância do cineasta Walter Salles para o cinema brasileiro -- afinal, é filho de banqueiros, um bilionário, e muitos veem a profissão de diretor mais como hobbie do que outra coisa. Mas, gostando dele ou não, foi Salles quem conseguiu romper boa parte do preconceito que existia (existe?) com o cinema brasileiro.
Ele conquistou indicações valiosas para Central do Brasil, por exemplo, um dos filmes brasileiros com mais atenção na premiação -- ao lado, claro, de Cidade de Deus. Ainda Estou Aqui, assim, chega de forma mais palatável aos votantes: as pessoas sabem que é Salles.
Isso quebra o preconceito com a legenda e com o filme internacional que assola boa parte dos americanos que ainda são maioria quando falamos de votantes no Oscar. Até aqueles mais velhos, geralmente mais conservadores, devem ter algum interesse em assistir ao novo trabalho de Salles -- o mesmo, porém, podemos dizer de Emilia Pérez, com Selena Gomez.
Além disso, tudo indica que o filme é realmente bom. Está sendo bem avaliado, bem comentado e está presente na grande maioria das apostas da Variety para o Oscar, que colocou Fernanda Torres como indicada em Melhor Atriz e Selton Mello como Melhor Ator Coadjuvante -- só falta a mãe de Torres, a Montenegro, conseguir uma indicação histórica em Melhor Atriz Coadjuvante.
Mas essas indicações para elenco são parte de outra conversa, outro texto, outro assunto. Aqui, estamos falando de Ainda Estamos Aqui em Filme Internacional. E aí a indicação é certa -- podem me cobrar aqui depois. A vitória é que parece ser fruto apenas de um trabalho árduo. Esses outros dois filmes que comentamos, Emilia Pérez e The Seed of the Sacred Fig, contam com atrativos quase irresistíveis para os votantes que gostam de contar uma história no Oscar.
O primeiro conta com um elenco internacional (Karla Sofía Gascón, Zoe Saldaña, Selena Gomez e Adriana Paz) e prêmios marcantes em Cannes, com Melhor Atriz para Gascón e um surpreendente prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante para todas as outras três (Gomez, Saldaña e Paz). Fora a força da história: uma advogada é abordada por um chefão do tráfico para ajudá-lo a realizar o seu sonho: uma cirurgia de redesignação sexual, a fim de poder viver como mulher.
Já The Seed of the Sacred Fig é extremamente político: conta a história de um juiz iraniano que se torna paranoico e passa a desconfiar de sua própria esposa e filhas durante os protestos em Teerã. O diretor, Mohammad Rasoulof, fugiu do Irã para conseguir apresentar o filme em Cannes -- segundo ele, conseguiu fugir a pé, atravessando a fronteira. História boa demais pro Oscar.
O jeito, agora, é esperar os próximos passos. A corrida já está começando a se desenhar e Ainda Estou Aqui tem tudo para ser um dos protagonistas da temporada. Aliás, se contarmos os dez indicados de Melhor Filme, quase impossível não contarmos com o longa brasileiro -- Amora, Conclave, Duna: Parte 2, Blitz, Emilia Pérez, O Quarto ao Lado, The Life of Chuck e... o que mais?
Coringa: Delírio a Dois foi descascado em Cannes. Saturday Night não foi tão bem recebido quanto se esperava. Gladiador 2? Acho difícil. Abre-se o caminho para Ainda Estou Aqui, com a nossa torcida para que o filme não apenas nade, nade bastante, mas também chegue na praia.
Commentaires