Laura Lavieri viu sua voz ficar amplamente conhecida em 2010, quando dividiu a interpretação de algumas canções com Marcelo Jeneci no álbum Feito pra Acabar. Foi ela, aliás, que embalou os principais versos da música indie-chiclete Felicidade -- "melhor viver, meu bem, pois há um lugar em que o Sol brilha pra você". Agora, oito anos depois desse sucesso inicial, Laura finalmente foi atrás do seu lugar ao Sol. Na última semana, a cantora indie lançou o seu primeiro disco individual, Desastre Solar.
Composto por onze faixas, de diferentes compositores, o novo álbum é uma verdadeira síntese do que se esperava de Laura. Músicas suaves, embaladas por sua doce voz, mas que conseguem atingir pontos profundos. "Todo mundo tem o seu talento, o seu momento. Todo mundo tem a sua poesia, sua energia", exclama a cantora na ótima faixa Respeito. "É libertador fazer algo que é meu. Posso me enxergar melhor agora", disse a cantora paulistana durante entrevista concedida com exclusividade ao Esquina.
Sem dúvidas, Lavieri chegou ao seu ponto solar -- termo que a acompanha desde os versos iniciais na canção de Jeneci. O disco, do selo slap, já está disponível nas plataformas digitais e também chega em versão física ao varejo. Além disso, ela irá assumir o protagonismo, após 10 anos como vocalista do autor de Felicidade, em dois shows já confirmados: 4 de Outubro, n’A Autêntica, em BH; e 14 de Outubro, no Auditório do Ibirapuera.
Abaixo, confira a entrevista completa do Esquina com a cantora e compositora Laura Lavieri:
Esquina da Cultura: 'Desastre Solar' é seu primeiro disco solo, o que é um grande passo na sua carreira como cantora. Como foi tomada essa decisão? Em qual momento você percebeu que era a hora para gravar um disco próprio?
Laura Lavieri: Eu precisei fazer um disco, pra me curar. Eu tive psoríase séria, ataques severos, e depressão, e eu cheguei na conclusão que pra ficar bem, eu teria que cuidar de mim, e isso seria fazer um disco. Eu tive o motivo. E fui descobrindo que disco seria esse. É um grande momento, mas é também só um momento. Eu já vivi dez anos de outros grandes momentos, tem um ineditismo na situação, mas não me sinto virgem.
Esquina: Você ficou muito conhecida no País após o sucesso em conjunto com Marcelo Jeneci. É maior o desafio agora de desgrudar dessa memória popular e trilhar um caminho próprio?
Laura: "Muito conhecida no país" é relativo, viu? (risos). Quando a gente sai do nosso habitat, casa, cidade, espaço, a gente vê como o mundo é grande, e o Brasil também. É libertador fazer algo que é meu. Posso me enxergar melhor agora. Durante 10 anos me nutriu e foi suficiente trabalhar "apenas" com o Jeneci&cia (equipe de 14 pessoas maravilhosas). E, com 18 anos, eu não sabia mesmo tão bem o que eu mesma queria dizer. Em algum momento precisei cuidar apenas do que era meu. E aí eu me enxerguei. Isso é mágico e poderoso. Talvez o desafio fosse lidar com a possibilidade de frustrar quem já gostava de mim, mas pra essa eu me preparei (risos).
Esquina: Parte do seu disco foi financiado via crowdfunding. Na sua opinião, essa forma de financiamento é uma das bases do futuro da indústria fonográfica? Você se vê fazendo mais captações por meio de financiamento coletivo?
Laura: Não tenho como prever o futuro (risos), mas adoraria que fosse esse. Acredito muito nas relações de consumo de maneira mais horizontal e direta, que acabam sendo mais simples, com menos possibilidades de desvios, e mais conscientes. Além de serem mais afetivas, humanas, honestas. E tem tanta coisa para se investir e administrar no trabalho dum disco, que se aqueles que o consomem forem patrociná-lo, em si, fica muito mais fácil de gerar fundos para os demais trabalhos (distribuição, assessorias, mídias, arte, cenário, figurino, logísticas, shows, vídeos, merchandising, marketing...).
Esquina: O seu disco conta com muito experimentalismo, referências de outros gêneros musicais. Como foi a construção de uma unidade ao redor de 'Desastre Solar'? Como foi a elaboração do trabalho como um todo?
Laura: A sua introdução me faz ter vontade de te devolver duas perguntas: a quais gêneros o disco se refere? qual o gênero do desastre? Parte do desafio de fazer um disco é escolher uma história pra contar. É também o que eu tava procurando: acessar os limites, delimitar algo. Eu tinha muitos desejos para um disco. E meus desejos operam numa seara bem sem-limites (risos). Chegou uma hora que fomos tendo que escolher (tudo) e naturalmente ele foi tomando forma. A única coisa que sabíamos é que seria solar. Fácil acesso. Sensitivo, sensorial. Também foi uma escolha que ele ocupasse mais espaços em termos de som, de áudio... Mas muita coisa foi espontânea, natural, decorrente da relação que estabeleci com o Diogo [Strausz, produtor], e os músicos, e como nos afinamos nas linguagens, musicalidade e intenções.
Esquina: Qual sua expectativa com relação ao disco? O que espera daqui pra frente?
Laura: Eu esperava que alguém me entendesse, e entrasse na onda. Quando recebi as mensagens das 3 primeiras pessoas (fora da minha bolha) que entenderam, eu fiquei feliz demais, e já valeu tudo. O que vier, é lucro.
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