Nos anos 1950, o mundo era varrido pelo tsunami do rock'n'roll, ritmo que impregnou jovens em toda parte do planeta. Dez entre dez rapazes aspirantes a cantor queriam moldar suas carreiras por meio daquele ritmo frenético e envolvente. Não foi diferente com o jovem Giuseppe Faiella, nome de batismo do cantor Peppino di Capri. Ele ficou alucinado com o gênero musical nascido no final dos anos 1940 nos Estados Unidos, que misturava aquele som de guitarra com outros ritmos como blues, country e gospel.
Peppino já tinha estourado na Itália com a música Malatia, de 1958, mas montou uma banda com o novo gênero que tomava conta do mundo, o grupo Rockers. “Como todos os jovens de minha época, a ideia de mudar o mundo. A rebeldia e a contestação aos padrões fizeram eu investir no gênero em voga, o rock”, conta ele por e-mail com exclusividade para o Esquina antes de viajar para o Brasil com sua nova turnê Per Amore, que terá participação da cantora Zizi Possi (veja entrevista abaixo).
O jovem cantor italiano, nascido na Ilha de Capri, em 1939, intuiu que para ter uma carreira longeva, ele precisava cantar coisas mais próximas a ele, como as canções napolitanas e as músicas românticas. Certamente sua decisão de tomar outro rumo musicalmente no inicio da sua carreira não deve ter sido fácil, mas o tempo provaria que seria certeira – ele e seu grupo de rock chegaram a abrir os shows dos Beatles em algumas cidades da Itália em 1965.
Mas antes mesmo disso, ele passou a ser conhecido em todo mundo como o grande sucesso romântico Roberta, gravação que ele fez em homenagem a primeira esposa em 1963. Outros sucessos românticos viriam, conquistas no prestigiado Festival de San Remo, quando venceu em 1973 e 1976 e alguns períodos de insucessos.
Agora ele retorna ao Brasil, após uma passagem em 2017, para a nova turnê. Não só para cantar para o público que sempre prestigiou suas músicas, mas também para comemorar os 60 anos de carreira, no ano em que ele completa 80 anos (ele nasceu em 27 de julho de 1939). “Acima de tudo, esses 60 anos de trabalho, muitas vezes árduo e algumas vezes não tão bem sucedido, serviram de base para reflexões sobre a vida, a carreira, a vontade de continuar a fazer o que sempre amei, problemas e situações à parte”, reflete.
Esquina da Cultura: O que seis décadas de carreira representam para você, hoje, próximo de completar 80 anos?
Pepinno di Capri: Seis décadas de carreira é tempo bastante para qualquer artista. Acima de tudo, esses 60 anos de trabalho, muitas vezes árduo e algumas vezes não tão bem sucedido, serviram de base para reflexões sobre a vida, a carreira, a vontade de continuar a fazer o que sempre amei, problemas e situações à parte. Saber que tenho um público fiel representa a certeza de que escolhi o caminho certo.
Esquina: Seu início de carreira foi, assim como muitos jovens, em várias partes do mundo, influenciados pelo rock in roll e o twist. Você chegou a fundar uma banda "Peppino di Capri e os seus Rockers", com o rock que tomava conta do mundo através dos Beatles e dos outros cantores americanos. Mas você percebeu que para ter uma carreira longeva, precisava cantar outros gêneros musicais. O que o levou a ter essa feliz ideia?
Pepinno: Como todos os jovens de minha época, a ideia de mudar o mundo, a rebeldia e a contestação aos padrões fizeram eu investir no gênero em voga, o rock. Entretanto, no final dos anos 1960, uma crise, não minha, mas contextual, fizeram com que eu pensasse não querer mais continuar no mesmo caminho de centenas de outros jovens. Parei por um tempo, refleti, e cheguei à conclusão que não seria apenas mais um jovem com um paletó cheio de botões e que o lado romântico me dizia muito mais. Um dia acordei, olhei no espelho e disse: “Não vou parar, vou continuar, mas agora fazendo o que entendo ser de fato importante para mim”.
Esquina: Você já veio muitas vezes ao Brasil, que perdeu as contas. O que tem de especial no país, e por que suas músicas são tão apreciadas aqui?
Peppino: Voltar ao Brasil é sempre um prazer. O calor da plateia, a amabilidade do público e do povo em geral, os shows cheios de vibração, com as pessoas cantando minhas músicas num idioma diverso, e compreendendo cada palavra. Tudo isso significa um impulso enorme, uma gratidão pelo carinho. O fato das músicas serem apreciadas venha talvez da facilidade das letras, da melodia fácil, mas cativante. Não sei.... Talvez o público brasileiro entenda nas entrelinhas das músicas o carinho que devoto à eles.
Esquina: Fale um pouco sobre sua nova turnê 'Per Amore', que chegará ao Brasil com a participação da cantora Zizi Possi. O que ela diferencia das outras turnês que chegaram aqui no País?
Peppino: Em primeiro lugar, jamais fiz um show dividindo o palco. Mas a experiência com Zizi Possi, nessa participação especial, chamou minha atenção pelo fato em saber que uma cantora brasileira, com tanto prestígio, já gravou dois CDs em italiano, e um deles dedicado à música napolitana, que remete à minha essência (nasci na [Ilha] de Capri). Será uma experiência nova e espero que o público goste.
Esquina: Você nunca gravou com Roberto Carlos, que começou quase que na mesma época que você -- inclusive, ambos foram influenciados pelo rock'n'roll, vencedores do Festival San Remo e seguiram carreira romântica. Pretende procurá-lo para gravarem juntos? Chegou a receber algum convite dele?
Peppino: Começamos mais ou menos na mesma época. Roberto Carlos, o Rei, como vocês o chamam, é um excelente cantor, compositor, com quem adoraria desenvolver um trabalho conjunto. Tive o prazer de encontrá-lo uma vez em Los Angeles, participamos de festivais em San Remo, mas não, não recebi nenhum convite por parte dele, o que, caso acontecesse me sentiria mais que honrado! Quem sabe dessa vez...
SERVIÇO:
Show: Peppino di Capri Per Amore com participação especial de Zizi Possi
Data: 21/03 às 22h00
Local: Credicard Hall
Endereço: Av. das Nações Unidas, 17.955 – Vila Almeida
Tel. (11) 2846-6040
Preço: Entre R$ 110 a R$ 500
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