O cineasta argentino Pablo José Meza já tinha uma carreira consolidada no drama, com os bons filmes Buenos Aires 100 Km e A Velha dos Fundos, quando decidiu se aventurar na comédia com As Ineses, que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 14. "Faço oficinas de roteiro, em Buenos Aires, e a história de uma das alunas chamou a atenção", disse o diretor em entrevista ao Esquina, em referência à Victoria Mammoliti. "Comecei a conversar com ela, a dar indicações e passei a coescrever a trama com ela. No final, a gente tinha As Ineses em mãos. Gostei tanto da história que resolvi eu mesmo dirigi-la."
Esta trama, que surgiu quase que inteiramente da mente criativa de Mammoliti, mostra uma confusão entre duas mães. Ambas são amigas, possuem sobrenomes iguais e acabam entrando em trabalho de parto no mesmo dia. A confusão se dá, porém, quando as filhas de cada uma delas parece trocada -- a de Rosa (Valentina Bassi) é loirinha de olhos azuis, enquanto o pai (André Ramiro) é negro; e a de Carmen (Brenda Gandini) é negra, enquanto o pai (Luciano Cáceres) é loiro e de olhos azuis. A confusão parece bem óbvia, mas ninguém consegue dizer, com certeza absoluta, o que aconteceu de fato ali.
O grande acerto de As Ineses, então, parte logo dessa premissa -- divertida, quase uma comédia de erros e de ares dramáticos. "As melhores comédias surgem a partir de dramas reais e humanos. Foi o que me atraiu no roteiro", disse Meza, em entrevista por telefone. Ele ainda acrescentou que saiu da zona de conforto, já que dirigir comédias e dramas oferecem ritmos bem diferentes. "O roteiro de As Ineses tinha quase 100 páginas e, assim, deveria ter cerca de 100 minutos. Mas o ritmo é mais acelerado, mais ágil, e acabei ficando com 75 minutos de duração. É um outro universo", disse o diretor.
No entanto, segundo ele, o grande desafio não foi se adaptar para as comédias, mas sim lidar com as crianças do elenco -- e que, de alguma forma, ajudam a alavancar a sutileza do filme e torná-lo ainda mais "família". "Gosto muito de trabalhar com crianças. Quando elas entregam boas atuações, o resultado é estupendo na tela", disse Meza. "Mas não foi fácil. É preciso ter muito controle no set e, principalmente, estar aberto para uma troca com o elenco. No final, nós trabalhamos totalmente em conjunto."
Ao final do bate-papo com o cineasta, ele ainda acresceu algo importante -- e que já tinha sido ressaltado por Pablo Giorgelli em entrevista ao Esquina: apesar de As Ineses ser uma coprodução com o Brasil, Meza afirma que não consegue conhecer a fundo o cinema nacional. "Pouca coisa do Brasil chega ao cinema de Buenos Aires", comentou o diretor. "Deveria haver uma união da América Latina em torno da distribuição de filmes para ser uma coisa mais homogênea. No entanto, isso é uma utopia. O cinema americano detém as grandes redes. Difícil sairmos dessa situação."
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