Chegou a época em que todo mundo escreve listas de melhores do ano -- de discos, de livros, de restaurantes e, claro, de filmes. Aqui no Esquina, ficamos com a incumbência de aumentar a última categoria. Como é tradição há sete anos, vamos indicar abaixo os 12 filmes favoritos de 2024. Felizmente, um ano com muita coisa boa -- ainda que 2025 esteja prometendo coisas melhores ainda. E claro: sinta-se à vontade para indicar seus favoritos nos comentários.
A seguir, confira os 12 melhores filmes de 2024
Imaculada
Muita gente não deu nada para esse filme de Sidney Sweeney -- acharam que seria mais um terror com freiras, uma bobagem a ser ignorada. Nada disso. Imaculada é um longa-metragem maduro que conta não apenas com uma atuação da jovem atriz, um dos nomes de destaque do nosso cinema, como tem uma coragem acima da média do diretor Michael Mohan com um final que choca, que é inteligente e termina em nota alta. Filme muito subestimado. Crítica AQUI.
Assassino por Acaso
É difícil, muito difícil, o cineasta Richard Linklater lançar um filme e não entrar na lista de melhores do ano. Ele, sempre lembrado por Boyhood e a Trilogia do Antes, não faz por menos em Assassino por Acaso, um longa-metragem divertidíssimo sobre um professor que, do nada, precisa fingir que é um assassino profissional. Glen Powell e Adria Arjona formam um casal cheio de química e que, acima de tudo, fazem com que a história funcione. Crítica AQUI.
As Bestas
Fui assistir a este filme espanhol sem qualquer expectativa -- imaginava um longa-metragem esquecível, perdido na tabela de distribuição e que entra nos cinemas só por obrigação. Que nada. As Bestas, que estreou escondido no começo de 2024, é magnífico ao falar sobre como homens e seus egos frágeis podem destruir tudo pelo caminho, geralmente sem qualquer tipo de vínculo com a sanidade. O terceiro ato do filme é de uma genialidade rara. Crítica AQUI.
A Substância
Eis aqui um belo exemplar de filme polêmico: alguns amam, outros odeiam. Eu fico no primeiro grupo. Por mais que o terceiro ato se prolongue mais do que deveria, A Substância é um filmaço de body horror que reflete sobre os padrões de beleza, colocando duas boas atrizes em combate direto (Demi Moore, cotadíssima para o Oscar, e a belíssima Margareth Qualley). Uma boa sacada que se transforma em um filme provocativo e, bem, muito nojento. Crítica AQUI.
O Sabor da Vida
Produção francesa, O Sabor da Vida me deixou completamente imerso na história. Chapado, como diz o grande Luiz Carlos Merten. É um filme sobre gastronomia (ou seria sobre amor?) e que consegue colocar na tela todos os sentimentos e sensações envolvidos no ato de cozinhar: os cheiros, as texturas e até mesmo o paladar. Tudo por meio da imagem, bem dirigida pelo francês-vietnamita Tran Anh Hung. Um filme para ativar os sentidos e brincar com as emoções.
Jardim dos Desejos
Um filme sobre o jardineiro de uma grande mansão. Essa é a história de Jardim dos Desejos, novo filme de Paul Schrader (do genial First Reformed) que mostra a vida desse homem ruindo após a chegada de Maya (Quintessa Swindell), a sobrinha-neta da proprietária e que está envolvida em problemas — no relacionamento e com drogas. Schrader é um cineasta que gosta de cutucar a ferida. De incomodar. Não apenas cria personagens no limite, seja como roteirista ou diretor, como também questiona o limite do mundo que embala suas histórias. No final, quem está entrando em um ciclo de insanidade? O personagem em questão ou o mundo? O que é, enfim, a sanidade? Como ser são? Um filme provocativo e que consegue inverter toda a lógica da coisa no minuto final, na última linha de roteiro, impactando o espectador. Crítica AQUI.
Duna 2
Duna: Parte 2 é um filme com amantes e detratores -- muita gente, nos últimos tempos, está reclamando do estilo do diretor Dennis Villeneuve, como se fosse asséptico demais. Discordo. Este é um épico como há tempos não víamos, conseguindo capturar boa parte da magia dos livros de Frank Herbert. A trama também está mais interessante do que no filme anterior, com Paul Atreides (Timothée Chalamet) e sua mãe, Lady Jessica (Rebecca Ferguson), se se escondendo no perigoso deserto do planeta Arrakis com os nativos Fremen, cujos costumes eles devem aprender enquanto tentam encontrar uma maneira de resistir aos Harkonnen. No processo, Paul lutará contra o destino criado para ele como o Lisan al Gaib, destinado a libertar os Fremen a um grande custo. Um filme intenso, que deixa o espectador grudado na cadeira, e que coloca o jogo político em destaque nesse universo tão bem reconstruído por Villeneuve para a telona, após duas tentativas fracassadas de outros cineasta. Merece estar na lista por isso.
Priscilla
Lá no meio do ano, quando fiz a lista de junho, coloquei o filme como o sétimo melhor. Subiu. Afinal, filme que estreou bem no comecinho do ano, Priscilla é um acontecimento. Dirigido por Sofia Coppola, o longa-metragem acerta ao mostrar os bastidores da vida de Priscilla e Elvis Presley, indo além daqueles comentários de vitrine de loja. A cineasta, afinal, consegue colocar um comentário social na história, mostrando como o abuso psicológico pode chegar até nas pequenas coisas do dia a dia -- como comentários sobre roupas, penteados e afins. Fora que a atriz principal, Cailee Spaeny, está impecável em sua recriação da personagem. Crítica AQUI.
Rivais
Confesso que não imaginava que o novo filme de Luca Guadagnino estaria na lista de melhores do ano -- tampouco tão bem posicionado assim. Estrelado por Zendaya, Rivais acerta ao falar sobre sexo e poder dentro do mundo do tênis. Trabalho de estreia do roteirista Justin Kuritzkes, casado com a diretora Celine Song (Vidas Passadas), o filme começa com uma partida de tênis entre Patrick Zweig (Josh O’Connor) e Art Donaldson (Mike Faist). Em um primeiro momento, pode até parecer que os dois nem se conhecem, mas as reações de Tashi (Zendaya), esposa e treinadora de Patrick, entregam que aquela não é uma simples partida de tênis – tudo ali fala sobre o relacionamento do trio. Afinal, mais do que falar sobre jogadores de tênis com egos feridos, Rivais é um filme sobre relações de poder. “Tudo nesse mundo é sobre sexo exceto sexo. Sexo é sobre poder”, teria dito Oscar Wilde, ainda que sem comprovação de que essa frase é do britânico. Sexo, poder e desejo se misturam com ganância, frustração e estrelato, com esses personagens servindo como marionetes – ora do tempo, ora de Tashi. Crítica AQUI.
A Corte Marcial do Navio da Revolta
A Corte Marcial do Navio da Revolta (ou, apenas, The Caine Mutiny Court-Martial) é o filme de despedida do cineasta William Friedkin, conhecido principalmente por seu trabalho em O Exorcista. Aqui, porém, nada do cinema de terror: este longa-metragem acompanha o julgamento de um subalterno de um navio que é acusado de armar um motim contra o capitão (Kiefer Sutherland). Com um roteiro esperto, o espectador sabe apenas dos fatos apresentados no julgamento, sem nunca saber ao certo o que aconteceu na embarcação. Ficamos divididos, assim, entre o capitão e o advogado dos acusados, brilhantemente interpretado por Jason Clarke, em um embate de narrativas que deixa o espectador sem fôlego como se fosse um filme de ação. E ainda tem o final do longa-metragem, com uma reviravolta interessante e que joga luz no que é exatamente moral em uma situação como essa. Disponível agora na Netflix.
Ainda Estou Aqui
Confesso que estou meio saturado de tanto Ainda Estou Aqui -- obviamente, continuo torcendo para o longa-metragem, mas algumas coisas fizeram me afastar emocionalmente da história nos últimos tempos. Ainda assim, esta pérola de Walter Salles continua merecidamente muito bem posicionada. Não só é um bom retrato de como a família Paiva sofreu com o sumiço de seu patriarca, Rubens, mas também fala sobre um Brasil que ficou no passado (ou seriam "brasis"?). É terno e bonito, com atuação arrebatadora de Fernanda Torres. Filme histórico para o Brasil.
Segredos de um Escândalo
Segredos de Um Escândalo é um filme que ficou com uma marca: a injustiça cometida no Oscar 2024, quando sequer foi indicado para Melhor Filme. Um absurdo. Injustiça, afinal, já que este trabalho do cineasta Todd Haynes é milimétrico ao cutucar o que há de mais podre, ridículo, inesperado na sociedade. Na trama, uma atriz (Natalie Portman) vai conhecer a mulher (Julianne Moore) que irá interpretar em seu próximo filme. O motivo de fazer um filme sobre ela? Há alguns anos, ela se relacionou com um rapaz muito mais novo, menor de idade, e que agora é seu marido (Charles Melton). A partir daí, acompanhamos uma trama com três camadas: as observações de Haynes sobre como o cinema se aproveita de tragédias; como a sociedade enxerga um relacionamento como esse, nascido a partir de um crime; e como a própria sociedade também se abate sobre essas pessoas, forçando relações que não existem. É um filme maduro, intenso e com grandes atuações (Portman, Moore e principalmente Melton brilham aqui) e que apenas reafirma Haynes como um dos cineastas mais provocativos em atividade, cutucando a sociedade americana. É um filmaço. Crítica completa AQUI.
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