Que lindo ano para o cinema nacional. Que lindo ano! Apesar do indicado do Brasil ao Oscar ter sido o vergonhoso O Grande Circo Místico, mais por questões políticas do que talentosas, há muita coisa a se destacar durante 2018. São produções de gêneros diversos, para todos os tipos de públicos, e que ajudaram a construir ainda mais essa identidade plural do cinema brasileiro. É filme de todos, feito por todos e para todos
O Esquina, dado esse bom momento da produção cinematográfica do Brasil, separou os ,principais destaques e os classificou num ranking de dez filmes. Os critérios para elencar os longas são os mesmos usados em outras listas classificatórias elaboradas pelo site: originalidade, qualidade técnica, história, atuações e caráter mobilizador.
10.
Título: Saudade
Direção: Paulo Caldas
Elenco/entrevistados: Arnaldo Antunes, Zé Celso, Milton Hatoum, Ruy Guerra
Nota do filme: 8,3
1. Originalidade: 8,5
2. Qualidade Técnica: 9,0
3. História: 7,0
4. Atuações/entrevistas: 9,5
5. Caráter Mobilizador: 7,5
Justificativa: Documentário que surpreendeu no início de 2018 ao mostrar, de maneira extremamente ampla, os significados e a força por trás da palavra "saudade". Paulo Caldas (Deserto Feliz), espertamente, não se contenta em falar apenas sobre a palavra existir apenas na língua portuguesa ou falar com entrevistados brasileiros. Vai além e investiga o que está por trás da "saudade" e, principalmente, fala com pessoas de Portugal, Angola e Moçambique. É lindíssimo de ver, ótimo para refletir e delicioso para mergulhar em sua poesia. Saudade é uma das surpresas do ano. Crítica completa AQUI.
9.
Título: Cartas para um Ladrão de Livros
Direção: Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros
Elenco: Laessio Rodrigues de Oliveira
Nota do filme: 8,5
1. Originalidade: 9,5
2. Qualidade Técnica: 7,5
3. História: 9,0
4. Atuações/entrevistas: 9,0
5. Caráter Mobilizador: 8,0
Justificativa: Divertido, ousado, crítico e bem feito, o documentário Cartas para um Ladrão de Livros é presença obrigatória na lista. Dirigido por Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros, o longa acerta ao mostrar a vida de um ladrão brasileiro de livros de modo pouco usual, permitindo que a história tome proporções divertidas e que não recaia, a todo o tempo, na crítica social. Isso, é claro, não indica que faltam alfinetadas ao longo da história. Há, e muitas. Mas o grande mote por trás da produção fica no colo do próprio espectador. Crítica completa AQUI.
8.
Título: Ser Tão Velho Cerrado
Direção: André D'Elia
Elenco: Juliano Cazarré, Valéria Pontes
Nota do filme: 8,7
1. Originalidade: 8,5
2. Qualidade Técnica: 8,5
3. História: 8,0
4. Atuações/entrevistas: 9,0
5. Caráter Mobilizador: 9,5
Justificativa: Mais um documentário e que forma um forte trinca de produções do gênero -- e, curiosamente, de temas bem distintos. Aqui, André D'Elia mostra detalhes do que o cerrado está passando atualmente no Brasil conforme fazendeiros tentam aumentar suas terras e o governo, enquanto isso, vai sacrificando partes dessa vegetação tão importante para o Brasil e para grande parte da América do Sul. É uma verdadeira aula sobre ecologia, além de servir como um alerta sonoro sobre o que pode vir a ser o futuro do País com a degradação dessa região. Crítica completa AQUI.
7.
Título: As Boas Maneiras
Direção: Marco Dutra e Juliana Rojas
Elenco: Isabel Zuaa, Marjorie Estiano
Nota do filme: 8,8
1. Originalidade: 10,0
2. Qualidade Técnica: 8,0
3. História: 9,0
4. Atuações/entrevistas: 9,0
5. Caráter Mobilizador: 8,0
Justificativa: Não adianta: As Boas Maneiras, da talentosa dupla Marco Dutra e Juliana Rojas (Trabalhar Cansa), foi um dos melhores filme brasileiro do primeiro semestre e, por isso, também um dos melhores do ano. Ainda que não tenha despertado amores por todo o público, o filme tem uma trama ousada, pouco usada no cinema brasileiro, e uma história impressionante que funde fantasia com a dura realidade social brasileira. Difícil ver algo tão interessante no cinema como As Boas Maneiras, que fica com as honras de ser um dos grandes filmes de terror do ano. Crítica AQUI; matéria com elenco AQUI.
6.
Título: Unicórnio
Direção: Eduardo Nunes
Elenco: Bárbara Luz, Patrícia Pillar, Zé Carlos Machado
Nota do filme: 8,9
1. Originalidade: 9,5
2. Qualidade Técnica: 10,0
3. História: 9,0
4. Atuações/entrevistas: 9,0
5. Caráter Mobilizador: 7,0
Justificativa: Ainda que o terror esteja numa crescente na produção cinematográfica nacional, há ainda poucas apostas no gênero da fantasia. Unicórnio, lindíssima produção mineira de Eduardo Nunes, flerta com o onírico para contar a história de uma família que parece despedaçada. Há poucas respostas imediatas para o que se desenrola na tela, mas as coisas, aos poucos, vão se encaixando e mostrando uma faceta extremamente criativa e rara no cinema nacional. A qualidade técnica da câmera de Nunes, que deixa tudo ainda mais brilhante e fantasioso, faz com que Unicórnio seja um dos destaques de 2018 e bata na trave no TOP 5. Crítica completa do filme AQUI.
5.
Título: O Beijo no Asfalto
Direção: Murilo Benício
Elenco: Lázaro Ramos, Débora Falabella, Fernanda Montenegro, Stênio Garcia
Nota do filme: 9,0
1. Originalidade: 7,0
2. Qualidade Técnica: 10,0
3. História: 9,5
4. Atuações/entrevistas: 9,5
5. Caráter Mobilizador: 9,0
Justificativa: Estreia de Murilo Benício na direção de longas, a refilmagem de O Beijo no Asfalto tinha tudo pra dar errado. Afinal, já existe uma excelente versão cinematográfica dessa peça de Nelson Rodrigues, lançada em 1980, e o texto é deveras teatral e poderia ficar artificial nas telonas. Mas Benício dá um show de ousadia e conhecimento técnico ao mesclar teatro e cinema numa mesma produção. O espectador, dessa maneira, não vê apenas a versão final, editada e gravada de O Beijo no Asfalto, mas também mergulha na preparação do ótimo elenco, formado por Lázaro Ramos, Débora Falabella, Fernanda Montenegro, Stênio Garcia, Augusto Madeira, dentre outros. Surpresa do ano. Crítica completa AQUI.
4.
Título: Arábia
Direção: Affonso Uchoa e João Dumans
Elenco: Aristides de Souza, Murilo Caliari, Renata Cabral
Nota do filme: 9,0
1. Originalidade: 8,5
2. Qualidade Técnica: 8,5
3. História: 10,0
4. Atuações/entrevistas: 8,5
5. Caráter Mobilizador: 9,5
Justificativa: Por pouco -- muito pouco -- que Arábia não encabeçou este rico e diverso ranking nacional. Com uma produção que chama a atenção pelo apuro técnico, o longa-metragem da dupla Affonso Uchoa e João Dumans vai na linha do neorrealismo brasileiro ao colocar um ator não-profissional (Aristides de Souza) na pele de um operário que circula pelo Brasil em busca de uma oportunidade. É real, é visceral, é bem feito. Arábia é uma aula de como fazer bons filmes e, principalmente, como é bom olhar para camadas sociais que recebem pouca atenção do cinema. Rende pérolas como essa. Crítica completa AQUI.
3.
Título: Canastra Suja
Direção: Caio Sóh
Elenco: Marco Ricca, Adriana Esteves, Bianca Bin
Nota do filme: 9,2
1. Originalidade: 9,0
2. Qualidade Técnica: 8,5
3. História: 10,0
4. Atuações/entrevistas: 10,0
5. Caráter Mobilizador: 8,5
Justificativa: Caio Sóh é um cineasta que vem se superando a cada novo filme. Começou com o pé direito no polêmico e surpreendente Teus Olhos Meus, depois inovou com o fantasioso Minutos Atrás e, recentemente, trouxe o bom Por Trás do Céu. Agora, ele chega ao ápice de sua carreira com o sensacional Canastra Suja. Com um tom quase documental, o filme mostra a rotina de uma família carioca repleta de problemas: o pai é alcoólatra, a mãe é viciada em bomba, os filhos mais velhos não têm perspectivas de vida e a filha mais nova tem autismo. Assim, Sóh constrói uma narrativa dura, com boas reviravoltas, que mostra que nem tudo é o que parece ser. Filmaço.
2.
Título: A Vida Extra-Ordinária de Tarso de Castro
Direção: Zeca Brito e Leo Garcia
Elenco: Tarso de Castro, Jaguar, Caetano Veloso
Nota do filme: 9,3
1. Originalidade: 8,5
2. Qualidade Técnica: 9,0
3. História: 9,5
4. Atuações/entrevistas: 10,0
5. Caráter Mobilizador: 9,5
Justificativa: Não canso de falar e repetir: o documentário A Vida Extra-Ordinária de Tarso de Castro é um filmaço. Ousado e de narrativa pouco usual para um documentário que precisa recorrer às entrevistas, o longa-metragem aposta numa narrativa dinâmica e em estratégias que deixam viva a curiosidade e o ânimo do espectador com relação à vida do falecido jornalista Tarso de Castro, responsável por criar o histórico jornal O Pasquim. É um filme que, de fato, faz mais sentido ao meio jornalístico, mas que é um alento ao público brasileiro. Crítica completa AQUI.
1.
Título: Benzinho
Direção: Gustavo Pizzi
Elenco: Karine Teles, Adriana Esteves, Otávio Muller
Nota do filme: 9,3
1. Originalidade: 8,5
2. Qualidade Técnica: 9,0
3. História: 10,0
4. Atuações/entrevistas: 10,0
5. Caráter Mobilizador: 9,0
Justificativa: É o filme nacional do ano. Não por ter uma trama extremamente complexa ou por usar técnicas avançadas na direção. Mas por ser essencialmente brasileiro. A mãe, vivida por Karine Teles, sofre com o filho mais velho indo morar no exterior. Mas, ainda assim, precisa fazer o papel de mãe responsável e com tudo sob controle por conta dos dois mais novos. Ao mesmo tempo, precisa arrumar tempo e disposição para ajudar a irmã, vítima de violência doméstica, e para dar força ao marido, que sonha em deixar seu pequeno negócio de lado e embarcar numa grande empresa. É o retrato perfeito da classe média brasileira, da vida de milhões de pessoas. É o filme do ano e que, sem dúvidas, merecia a indicação nacional ao Oscar. Injusto. Crítica completa AQUI.
Menções honrosas
Rasga Coração (8,3); Ex-Pajé (8,2); Aos Teus Olhos (8,2); O Processo (8,1); Todas as Canções de Amor (8,0); Legalize Já! (7,9); Amanhã Chegou (7,9); O Doutrinador (7,8); 10 Segundos para Vencer (7,7); Pagliacci (7,6); Praça Paris (7,5); Mulheres Alteradas (7,5);
Observações
* Para desempate, seguiu-se a ordem de notas: originalidade, qualidade técnica, história, atuações e caráter mobilizador.
** Algumas notas mudaram do ranking de 5 melhores filmes brasileiros de 2018 até o momento por conta de contexto.
*** Os filmes Como Você me Vê?, Antes do Fim, Pra Ficar na História, Santoro: O Homem e Sua Música, O Silêncio da Noite é Que Tem Sido Testemunha das minhas Amarguras e Surf no Alemão não foram avaliados por falta de disponibilidade em serviços VoD ou na época de lançamento.
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