Nos últimos tempos, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood tem tentado trazer pluralidade nas suas indicações. Ameaçou criar categorias populares, ampliou o número de votantes para trazer diversidade e outras coisas do tipo. O resultado, porém, continua desanimador: dentre os 20 indicados de atores no Oscar 2020, há apenas uma mulher negra.
Foi a excelente Cynthia Erivo (de As Viúvas e Maus Momentos no Hotel Royale) que conseguiu emplacar uma indicação pelo filme Harriet, ainda inédito no Brasil. Enquanto isso, Jennifer Lopez (As Golpistas), Awkwafina (The Farewell) e Lupita Nyong'o (Nós), com atuações de ponta nos filmes indicados entre parênteses, ficaram de fora para dar lugar à pessoas brancas.
Além disso, o elenco de Parasita -- que conseguiu impressionantes 7 indicações -- também foi esnobado. Mas aí dá para dizer que algumas categorias já estavam excessivamente cheias.
Na categoria de Melhor Direção, por fim, a excepcional Greta Gerwig não conseguiu emplacar uma esperada indicação por Adoráveis Mulheres -- a meu ver, o trabalho mais competente e autoral do ano, junto de Nós e Parasita. No lugar, entrou nomes como Todd Philips por Coringa e Sam Mendes por 1917. Seria a segunda mulher no Oscar a ter duas indicações na categoria.
Agora, então, devemos nos perguntar o motivo disso acontecer. Obviamente, a Academia tem uma parcela imensa de culpa nisso -- apesar dos esforços, a maioria dos seus votantes ainda são homens, brancos, classe média alta. Como acontece em todas as sociedades patriarcais e elitizadas, esses homens se protegem e acabam dando privilégios para os seus iguais.
No entanto, acredito que o problema está mais em baixo -- como o jornalista Mark Harris apontou brilhantemente num texto para a 'Vanity Fair'. A grande questão é que, mesmo antes da temporada de premiação, as pessoas tratam as minorias como se estivessem disputando uma única vaga. E quando digo pessoas, me refiro ao público, aos pares, aos jornalistas e afins.
Repare na categoria de Melhor Direção, por exemplo. As pessoas trataram de dizer que Gerwig estava "brigando" pela vaga com Philips e Taika Waititi. Nem ao menos foram considerados outros nomes para a disputa, como Lulu Wang por The Farewell. Além disso, Lupita, Awkwafina, Jennifer Lopez e Shuzhen Zhao também pareciam brigar apenas por um único posto.
Assim, com a continuidade do #oscarsowhite, talvez precise repensar o processo para além da Academia -- que, aparentemente, vai se transformar com a velocidade de uma tartaruga. Nós, da comunidade jornalística, dos fãs de cinema e dos influenciadores da sétima arte, devemos ter uma postura diferente. Mais inclusiva, mais aberta às minorias, considerando todos como iguais.
Com uma mudança de postura, mais altiva e incisiva, talvez haja uma diferença na forma como os indicados se configuram. Obviamente, é triste ter que falar sobre esta mudança tendo que partir de um lugar diferente da origem do preconceito. Mas é preciso pensar em estratégias, meios de mudança. Continuar do jeito que tá, não dá. É preciso uma mudança total de postura.
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