Confesso que senti falta do cansaço da Mostra este ano. Da correria entre as salas de cinema, o cansaço entre as sessões, o blá-blá-blá entre um filme e outro. São coisas que fazem parte da cobertura desse importante evento do cinema brasileiro e que criam o "ambiente" da Mostra. No entanto, é inegável: a digitalização do festival, mesmo sem todo esse clima, funcionou. E muito.
Usando uma plataforma internacional robusta, que também foi utilizada pelo Festival de Toronto, a Mostra se garantiu. Com ingressos a preços populares, o festival fez com que alguns dos mais importantes filmes do ano circulassem pelo Brasil. Não Há Mal Algum, Feels Good Man, Mosquito e alguns outros excelentes filmes puderam ser assistidos do Oiapoque ao Chuí.
É algo monumental. Por mais que tenham existidos alguns pequenos problemas de ordem técnica, como alguns travamentos e até legendas dessincronizadas, nada atrapalha a grandiosidade de um festival de cinema desse porte, com esse alcance. No entanto, ainda assim vale dizer: uma pena que apenas um punhado de filmes tenha batido o limite de visualizações.
Ademais, dá para dizer que os próximos anos da Mostra poderiam ser, com tranquilidade, híbridos. Por um lado, ter sessões presenciais de alguns grandes e aguardados filmes -- afinal, produtores dificilmente vão continuar liberando todos e quaisquer filmes no digital. Por outro, seria interessante manter algumas exibições no digital. Filmes independentes, talvez.
E os filmes?
Apesar da boa experiência on-line, o mesmo não se pode dizer da qualidade dos filmes selecionados nesta 44ª edição. A maioria esmagadora dos filmes transitou entre medíocres, ruins e regulares. Na primeira categoria, entram longas como Stardust, Verlust e Cook F**k Kill. Na segunda turma, Dente por Dente, Notturno, Walden e Lua Vermelha. Todos insuportáveis.
Já os regulares, a terceira categoria dos que listei acima, há uma infinidade. Tremor, Shirley, Miss Marx, Irmã, Coronation, enfim. Muita coisa. Há, também, várias decepções. Casa de Antiguidades é a maior delas. Um filme banal, como ressaltamos aqui. Nova Ordem, de Franco, é outra produção que prometia muito. Não teve nada. Nadando Até o Mar Fica Vermelho também.
Mas, felizmente, os bons filmes eram realmente bons. Uma Máquina para Habitar foi meu favorito, disparado. Filmaço sobre Brasília. Feels Good Man fala muito sobre a atualidade de um modo moderno. Não Há Mal Algum mostrou de maneira direta o porquê de ter ganho Berlim. E Winona, City Hall, Cracolândia, 17 Quadras, Suor e DAU. Natasha também surpreenderam.
Não é a melhor seleção da Mostra, mas está longe de ser a pior. Muito longe. Foi uma Mostra diferente, é claro. Com seus altos e baixos, desafios e estranhezas. Mas não dá para encerrarmos sem celebrar o festival. A Mostra se provou resiliente: venceu uma falta de patrocínio, evitou uma crise e, agora, atravessou uma pandemia. Palmas pra Mostra. Merece.
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