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Foto do escritorMatheus Mans

Opinião: há mais paralelos entre 'Game of Thrones' e Bolsonaro do que parece


Game of Thrones errou muito no direcionamento da última temporada da produção, como já ressaltamos em vídeo. No entanto, há um elemento que surgiu no último episódio e que merece atenção: os paralelos que a série, de tom medieval, conseguiu traçar com a vida de quem a assiste. Ainda que discretos e pouco notáveis, esses elementos ajudaram a tornar a série mais agradável e palatável aos olhos de quem via finais decepcionantes de personagens outrora queridos como Jon Snow e Daenerys.

O primeiro ponto a se ressaltar desses paralelos é o comportamento da Rainha dos Dragões. Por mais que sua loucura seja repreensível, do ponto de vista de desenvolvimento narrativo, há algo de interessante ali. Afinal, Daenerys faz com que o sabor do poder tome de assalto sua benevolência e, dessa forma, passa a questionar o sistema como um todo. A "roda", nas palavras dela. É um discurso altamente fascista, no qual o governante é livre de todos os problemas e o sistema ao redor é que o pune.

Em seu 13º ponto de observação de regimes fascistas, no livo O Fascismo Eterno, o escritor Umberto Eco fala como governos autoritários se baseia num populismo qualitativo. O líder -- nesses casos, Bolsonaro e Daenerys -- se veem como os bastiões dos direitos sagrados da população. Eles, numa única figura, querem representar o que as maiorias de um País buscam, em tese. Para isso, querem passar por cima de reinos, casas, famílias, lideranças, congressos, constituições, senados, supremos tribunais.

Atualmente, no Brasil, vê-se uma guinada (ainda mais) fascista do presidente Jair Bolsonaro, que tem se vitimizado cada vez mais para parecer um mártir frente ao sistema que o cerca. Tem incitado protestos contra o Congresso, contra o STF, contra "tudo que está aí". Afinal, são essas coisas invisíveis e etéreas que o cercam que, segundo ele próprio, o impedem de governar. Daí para um regime autoritário e fascista basta um pulo, um passo a mais para a direita. E não é o que Daenerys estava fazendo

Ela, afinal, tomou a capital de Westeros derrubando sangue de inocentes para, em seguida, dizer que não estava satisfeita. Queria tomar o controle de todas outras regiões daquele povo, derrubando ainda mais inocentes pelo caminho. Obviamente, Bolsonaro não derrubou sangue algum de maneira aberta e pública. E muito menos saiu montado em um dragão. Não vivemos em Westeros, afinal. Mas é espantoso como o discurso de ambos está em consonância. Agem desvairadamente por um "bem superior", e depois...

Poder acima de todos. Eu acima de tudo. Daenerys e Bolsonaro caminham de mãos dadas.

Democracia e bastidores

Além disso, há duas "piadas inglesas" no meio do último episódio que merecem destaque. Primeiro, a colocação de Sam sobre uma possível democracia em Westeros. Por mais que a cena seja despropositada dentro do cenário e das situações que até ali tinham sido estabelecidas na série, há algo de divertido ali. Sam fala como seria positivo colocar um governante escolhido pelo próprio povo de Westeros no "trono de ferro". No entanto, a sugestão dele é recebida com uma sonora gargalhada dos presentes ali. Uma maneira frequente de tratar a democracia por parte das elites econômicas e políticas.

Por fim, há uma piada saborosa quando Tyrion entra em contato com o livro que conta a história das guerras e do poder de Westeros. Animado, ele pergunta à Sam como foi retratado nas páginas. Se foi bem descrito, se foi benevolente, corajoso. Nisso, o guardião do livro responde o último Lannister nem está nas páginas da obra histórica. Ora, isso nada mais é do que uma provocação aos que agem nos bastidores, manipulando decisões. É isso que Tyrion fez na série, quase sem sair das sombras. Outro poder misterioso que ainda opera atualmente em todo mundo. Até aqui no Brasil.

O fato é que Game of Thrones terminou mal. No máximo, na mais positiva das interpretações, terminou com gosto agridoce. Mas, ainda assim, nesses três rompantes distintos, trouxe algo que há tempos não se via na produção. E que, de alguma forma, ajuda a mostrar como ficção e realidade estão conectadas. Por mais que ambas sejam ruins.

 

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