Todo ano é uma diversão. Junto com os vencedores do Globo de Ouro e os indicados ao Oscar, surge o Framboesa de Ouro. Grande paródia de todos esses prêmios que citei antes, o Framboesa começou como uma piada e, aos poucos, foi se tornando algo mais sério -- ainda que muitos “indicados” levem tudo na brincadeira, como Sandra Bullock que recebeu o prêmio pessoalmente. Ou seja: é uma piada com consequências reais. E que desserviço foi a indicação de Mãe!.
Novo longa-metragem do cineasta Darren Aronofsky, Mãe! surpreendeu ao entrar na lista de pré-indicados ao Framboesa na última semana. Junto com ele, A Torre Negra, Emoji, Pai Em Dose Dupla 2 e até Cinquenta Tons de Liberdade. Filmes obviamente comerciais e que contam com qualidade duvidosa -- a maior parte da crítica não aprovou o que viu nesses filmes. Fica a pergunta, então: o que Mãe! está fazendo com obras de gosto tão duvidoso e achincalhadas?
O fato é que Mãe! não foi tão bem compreendido. Afinal, como dissemos na análise sobre o filme, Aronofsky quis passar uma imagem ambientalista e que critica a relação com a Terra. É uma mensagem forte e que pode ter três diferentes reações: os que gostam muito, os que odeiam e os que não aceitam, de forma alguma, a mensagem passada. E aí, neste último ponto, ou a pessoa finge que não entendeu o que viu ou começa a dizer que o filme é uma bomba.
E deve ter sido isso que aconteceu no Framboesa de Ouro. Resultado da votação de quase 700 pessoas, dentre cinéfilos, jornalistas e internautas, o prêmio possui uma volatilidade em acordo com o que acontece no mundo. Hoje, vivemos em uma sociedade cada vez mais e mais polarizada e com ânimos à flor da pele. Fica claro que tendências pessoais, como não aceitar a mensagem de Mãe!, acabam afetando votações como essa. Mãe! não tinha que estar lá.
Esse possível movimento -- ou qualquer outro que colocou Mãe! no Framboesa de Ouro -- faz um verdadeiro desserviço ao cinema. Ao invés de descontrair com piadas e algumas cutucadas à falta de originalidade da indústria, o prêmio acaba indo na direção contrária. O longa-metragem de Aronofsky, afinal, acaba sendo repreendido pela ideia original de seu roteiro. Um filme autoral, corajoso e que não segue as regras que estão dominando os EUA nos últimos anos.
Com essa “brincadeira” do Framboesa, então, quem perde é o Cinema. Perde por não dar incentivo à outras ideias parecidas. Perde por repreender um filme com uma ideia original e que trouxe frescor ao cinema. Perde por esquecer de filmes como xXx: Reativado enquanto Aronofsky e Woody Allen estão na lista. É triste ver isso e é um passo obscuro do cinema como um todo. Tomara que percebam isso e Mãe!, junto com Roda Gigante, saiam da lista de indicados finais.
Se permanecerem, só há duas certezas: o Framboesa vai virar uma paródia de si mesmo e o mundo, sem dúvidas, vai ficar ainda mais sombrio. Vamos aguardar.
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