Na última semana, uma triste notícia se abateu na esquina da Consolação com a Avenida Paulista. O Cine Belas Artes, um dos mais tradicionais cinemas de rua do País, perdeu o patrocínio da Caixa e passou a ter o seu futuro incerto novamente. Segundo André Strum, dono do local e ex-secretário de cultura da cidade, pode fechar as portas em até dois meses, já que a bilheteria não é o bastante para pagar o aluguel e o corpo de funcionários. É, dessa forma, mais um passo no desmonte da cultura brasileira.
Logo que saiu a notícia, porém, houve quem comemorasse. Espumando de ódio e ignorância, algumas pessoas disseram que foi um acerto do Governo Federal, já que é "preciso parar de dar dinheiro pra cultura, pra Lei Rouanet". Quem diz isso, certamente, não sabe como a cultura é transformadora e, principalmente, educativa -- algo necessário num País como o Brasil. Um jornal chegou a dizer que o banco fez certo, já que o público é elitizado. Sem dúvidas, este jornaleco não sabe do programa social que o Belas promove com escolas da periferia da cidade, toda semana. Haja ignorância!
Isso sem falar, claro, da situação similar que vive a Mostra Internacional de Cinema e o Cinearte -- ambos dependentes do patrocínio da Petrobrás, sob ordens do novo governo.
É, dessa forma, uma triste realidade que se abate em todos círculos culturais no Brasil, onde o independente não consegue mais respirar. O Belas Artes, ainda que seja considerado elitizado para muitos, promove algo difícil no País: o lançamento de filmes alternativos que não têm vez em grandes cadeias de cinema, permitindo que o público tenha contato com produções de países diversos, gêneros inimagináveis e histórias que ficariam extremamente restritas. O Belas é um ambiente de promoção social, educacional e cultural. Um mix de coisas que o Brasil precisa urgentemente, pra ontem.
Ficar sem um espaço tão interessante faz com que a cidade -- e o País, claro -- se torne mais pobre nos aspectos que lhe são mais caros. Um Governo Federal que fecha os olhos para questões tão relevantes, e sem dar qualquer tipo de parecer, falha em níveis astronômicos. E não há previsão de qualquer mudança. Sem dúvidas, o atual presidente prefere manter os gastos astronômicos que correm dentro do Congresso e do Senado Federal do que olhar com carinho para a cultura e a educação. A sociedade, de novo, fica por último na conta. Ainda que, tristemente, seja ela quem desembolsa o dinheiro.
Neste momento, a torcida fica para que uma empresa privada enxergue todas as possibilidades de investimento num cinema tão importante quanto o Belas Artes. Muitos defensores, nas redes sociais, chamam a atenção de instituições financeiras como o Nubank e o Bradesco -- no entanto, dado o histórico das duas empresas na área da cultura e educação, é difícil haver algum movimento nesse sentido. Outras pessoas pedem que a Netflix olhe com o carinho para a questão. Quem sabe? Depois de Roma, o serviço de streaming passou a olhar com mais carinho para as salas de exibição. Ter um cinema em São Paulo facilitaria muito exibições com as feitas no final do ano passado.
O Belas é mais do que um cinema. É um instituição que promove cidadania, cultura, educação, vínculo social. É onde pessoas se encontram, é onde pessoas se deslumbram com o que veem na tela. É onde amigos se reúnem para madrugas, nos já famosos noitões. Seria um prejuízo inestimável para o País, numa época em que o fascismo está aflorado, perder um espaço que tanto tem a acrescentar. Salvem o Belas! Salvem a cultura do País! Não podemos deixar que a ignorância tome de vez essas terras.
Obs.: Um movimento natural tomou forma nas redes sociais para que as pessoas demonstrem seu carinho pelo Belas. Será no dia 17 de março. Evento AQUI.
コメント